sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Último Capítulo de Pulo do Gato


CENA 01 / INTERIOR / GALPÃO / NOITE

Gilberto em choque. Terezinha está COBERTA de sangue e está parada com a serra elétrica ligada nas mãos. Aos poucos é revelada a arma de Calixto, que está entre sua mão direita fechada. À medida que a CAM vai subindo, é visto que a cabeça de Calixto está fora de seu corpo e que, por isso, Terezinha e Gilberto estão tão petrificados. Gilberto chama por Terezinha, mas ela está parada, em estado de choque. Depois de muito ser chamada, Terezinha começa a rir e a dançar. Gilberto olha perplexo para a irmã. Terezinha pega a cabeça de Calixto pelos cabelos e beija a sua boca. Gilberto vomita e Terezinha olha para o irmão. Em seguida, se ajoelha para falar com ele.

TEREZINHA – (atenciosa) Gilberto, meu irmão querido... Você fez tanta coisa por mim... Me ajudou tanto quando nós éramos pequenos... Você lembra aquela vez que eu quis uma boneca linda, mas muito cara e você deu um jeito de roubá-la pra mim?
GILBERTO – (enojado) Roubar é diferente de matar.
TEREZINHA – Mas é assim que começa. Crime por crime. Sangue por sangue.
GILBERTO – E eu disso! E eu me sinto culpado... A culpa é toda minha, Terezinha, toda minha!

Gilberto começa a chorar e Terezinha o abraça, cheia de lágrimas nos olhos também.

TEREZINHA – Não é assim, meu irmão, também não é assim! Eu sempre te amei e tu tentou me criar da melhor maneira possível! Trabalhando, me ensinando o que era o certo e o que era o errado... A culpa de tudo isso não é sua, é minha. Completamente MINHA! (PAUSA) Você me perdoa?
GILBERTO – Quem sou eu pra te perdoar, Tereza?
TEREZINHA – A única pessoa que eu amei de verdade dessa vida.

Gilberto olha dentro dos olhos de Terezinha.

GILBERTO – Perdoo. Perdoo sim. E vou perdoar quantas vezes eu precisar, minha irmã. Agora se entrega pra polícia, é o único jeito de você amenizar teus erros, mulher.
TEREZINHA – (chorando) Tá bom. Se você tá pedindo, eu faço.

Terezinha pega a cabeça de Calixto às lágrimas e segue para a porta do galpão, mas antes se vira a Gilberto.

TEREZINHA – Só mais uma coisa... Seu pinto não é pequeno.

Gilberto sorri.

GILBERTO – Eu sei disso.

Terezinha manda um beijo para o irmão e sai do galpão. Gilberto começa a chorar.

CORTA PARA:

CENA 02 / EXTERIOR / GALPÃO / NOITE

A polícia está pronta para entrar. É quando Terezinha sai completamente desfigurada, com a cabeça de Gilberto numa mão e a serra elétrica na outra.
SELMA – Mas o que é aquilo na mão dela?
ESTÊVÃO – Aquilo... Aquilo é uma...
DELEGADO – Uma cabeça!

Terezinha joga a serra e a cabeça no chão, se ajoelha e levanta as mãos como sinal de rendimento. Alguns polícias vêm e a algemam. Terezinha é levada arrastada de volta para o carro. Alguns policiais entram no galpão e retiram Gilberto dali numa maca, o enfiando numa ambulância em seguida.

SELMA – Meu Deus... Essa mulher é completamente louca...

Ao ser levada, Terezinha e Estêvão trocam olhares de tristeza e pena, respectivamente.

CORTA PARA:

CENA 03 / MORRO D’ÁGUA / INTERIOR / CASA VICTOR HUGO / MADRUGADA

Victor Hugo e Laura Dagmar entram quebrando tudo. É quando ele arranca a roupa de ambos e começam a transar.

CORTA PARA:

CENA 04 / INTERIOR / CONSTRUTORA / ESCRITÓRIO / MADRUGADA

Antônio e Laura se encarando.

ANTÔNIO – (perplexo) Como... Como...?!
LAURA – Eu simplesmente pulei do carro antes que ele capotasse, meu querido!
ANTÔNIO – Eu vou ligar pra polícia, isso sim!

Antônio pega o celular e Laura lhe dá uma facada na mão.

LAURA – Nem pense!

O celular de Antônio toca. É Lurdinha ligando.

LAURA – Atende e diz que você vai ter que arrumar uns papeis aqui no escritório, anda! Bora! E põe essa merda no viva voz!
ANTÔNIO – (atendendo, ao cel) Oi, Lurdinha.

CORTA PARA:

CENA 05 / EXTERIOR / DELEGACIA / MADRUGADA

Lurdinha com Tom ao lado.

LURDINHA – (ao cel) Oi, papai. Acabei de prestar depoimento aqui na delegacia. O Tom veio me buscar e estamos indo pro hotel. Quer que a gente durma no apartamento?

CORTA PARA:

CENA 06 / INTERIOR / CONSTRUTORA / ESCRITÓRIO / MADRUGADA

ANTÔNIO – (disfarçando) Não precisa não, Lurdinha. Eu vou ter que arrumar uns papeis aqui na empresa e devo chegar mais tarde. Tudo bem?

CORTA PARA:

CENA 07 / EXTERIOR / DELEGACIA / MADRUGADA

LURDINHA – Tudo bem. Mas amanhã eles com certeza vão querer te ouvir.
ANTÔNIO – (off) Não tem problema, filha, não tem problema. Boa noite pra você e obrigada por tudo.
LURDINHA – De nada.

Lurdinha desliga o celular.

TOM – (abraçando Lurdinha) Não fica triste não, Lurdinha.
LURDINHA – Minha família acabou, Tom, acabou. Minha mãe tá morte, minha irmã foi sequestrada... A sorte é que eu ainda tenho o meu pai.
TOM – Vamos esquecer isso, meu amor. Eu tenho novidades pra te contar.
LURDINHA – (desanimada) E qual é a boa da vez?
TOM – A Maria Gilderoy apareceu lá no hotel e disse que vai embora pra Las Vegas virar dona de um cassino.
LURDINHA – Mentira?! Que loucura.
TOM – E ainda passou a Show Delícia pra mim.
LURDINHA – Pelo menos você não vai ser pobre. Ainda mais com esse ensaio pelado aí...
TOM – Não reclama. São cinquenta milhões, querida.

Lurdinha sorri e Tom beija sua testa. Os dois seguem para o hotel.

CORTA PARA:

CENA 08 / INTERIOR / CONSTRUTORA / ESCRITÓRIO / MADRUGADA

Laura pega o telefone de Antônio e joga num vaso com água. Em seguida, lhe dá uma facada na cara, que o faz cair no chão.

ANTÔNIO – Como você conseguiu fazer tudo isso?
LAURA – Aprendi com você... Afinal, foram tantos anos de humilhação, apanhando, sendo xingada dos piores nomes possíveis...
ANTÔNIO – Mas você me fez de escravo junto com o Beto, me humilhou, me enganou também!
LAURA – E foi muito bem feito!

Laura se vira e começa a quebrar todo o escritório. Aproveitando a deixa, Antônio pega uma arma e aponta para Laura. Laura se vira e fica surpresa.

ANTÔNIO – Acabou.

Laura começa a rir desvairadamente.

LAURA – Com certeza.

Laura joga a faca no chão e pega uma arma da cintura. Os dois atiram um na cabeça do outro e morrem.

CORTA PARA:

CENA 09 / VISTA AÉREA

Amanhece no Rio de Janeiro

CORTA PARA:

CENA 10 / INTERIOR / ESTÚDIO DE FOTOGRAFIA / TARDE

Tom está nu e conversando com Lurdinha quando Laura Dagmar aparece junto com Victor Hugo.

LURDINHA – Vocês dois?
L. DAGMAR – Ué? Só porque ele não é stripper? (P/TOM) E já tirou a roupa? Vai ter que esperar eu colocar lantejoulas na periquita, meu querido.
TOM – Eu espero, Laura Dagmar...

Laura Dagmar vai com Victor Hugo para o camarim e Lurdinha se vira para Tom.

LURDINHA – Acordei com um péssimo pressentimento.
TOM – (preocupado) Será que é alguma coisa sobre o ensaio?
LURDINHA – Não, não... Acho que é com o meu pai... Vou ligar pra ele e.../corta
TOM – /(segurando nos ombros de Lurdinha) Lurdinha, seu pai sabe se virar muito bem. Dá um tempo pra ele assimilar as informações que ele teve durante esse tempo todo, ok?
LURDINHA – É... Você tá certo.

Tom sorri e beija Lurdinha.

CORTA PARA:

CENA 11 / INTERIOR / ESTÚDIO / TARDE

Tom e Laura Dagmar fazem o ensaio sob às vistas de Lurdinha e Victor Hugo.

CORTA PARA:

CENA 12 / INTERIOR / ESTÚDIO / TARDE

Laura Dagmar e Tom já vestidos.

TOM – Foi muito bom trabalhar com você, Laura Dagmar.
L. DAGMAR – Digo o mesmo.
LURDINHA – Tá, adeus.

Lurdinha puxa Tom e vai embora. Victor Hugo e Laura se olham.

V. HUGO – Você trabalha muito bem, sabia?
L. DAGMAR – Digamos que posar nua é apenas pros fortes.
V. HUGO – Sou muito forte também...
L. DAGMAR – Sabe, nós poderíamos unir nossas forças e virar uma dupla. Você vira meu empresário, e eu, a sua cliente.
V. HUGO – (beija a mão de Laura Dagmar) Ótima ideia.

O dois vão embora de mãos dadas.

CORTA PARA:

CENA 13 / INTERIOR / CONSTRUTORA / ESCRITÓRIO / TARDE

Estêvão entra no escritório e vê Antônio e Laura mortos. Ele toma um susto e liga para a polícia.

CORTA PARA:

CENA 14 / EXTERIOR / CONSTRUTORA / TARDE

Lurdinha está inconsolável junto a Tom e Estêvão.

LURDINHA – Eu perdi toda a minha família, meu Deus... TODA a minha família!
TOM – (se ajoelha) Eu acho que nós dois poderíamos reconstruir a sua família e formar uma nova.
LURDINHA – Como assim?
TOM – (sorri) Vem comigo. Estevão, com licença, um minuto.

Tom pega Lurdinha pelo pulso e a leva dali. Estêvão vai falar com um policial.

CORTA PARA:

CENA 15 / EXTERIOR / PRAIA / TARDE

Tom corre com Lurdinha no colo e, depois de alguns passos, param à beira do mar.

LURDINHA – O que você vai fazer?
TOM – Vamo casar.
LURDINHA – Mas como? Com que padre? E como você tem coragem de casar agora, Tom? Meus pais morreram e.../

/Tom beija Lurdinha.

TOM – Casamento com amor verdadeiro não precisa de um padreco pra abençoar. Deus abençoa lá de cima.
LURDINHA – E onde está Deus?
TOM – (rindo) Em todos os lugares, mulher. Um dele é aqui, na nossa frente, o mar. (pausa) Vamo nos unir com a natureza de testemunha, Lurdinha.

Lurdinha sorri e Tom corre com ela no colo para o mar. Os dois se levantam dali se beijando. Os banhistas observam tudo e aplaudem. Lurdinha e Tom ficam felizes pra sempre.

CORTA PARA:

CENA 17 / INTERIOR / CLÍNICA AMERICANA / CTI / NOITE

Gilberto está respirando com a ajuda de aparelhos quando Estêvão entra no quarto. Gilberto o corta com o olhar, mas Estêvão ignora.

ESTÊVÃO – (hesitando) Gilberto, eu andei pensando e... Bem, o mínimo que posso fazer por você... É pagar o seu tratamento. Você aceita?

Gilberto sorri e uma lágrima cai do seu olho.

GILBERTO – Já sofri demais pra dizer não pra vida.

Estêvão sorri e aperta a mão de Estêvão.

CORTA PARA:

CENA 18 / INTERIOR / MANSÃO ITACURUÇÁ / SALA / MADRUGADA

Estêvão chega à mansão e encontra um bilhete de Selma em cima da mesa. Ao pegá-lo, ele cai no sofá.

SELMA – (off) Estêvão, caí no mundo. Preciso de um tempo sozinha para poder colocar melhor as ideias no lugar. Dentro de um tempo eu mando notícias.

CORTA PARA:

DOIS MESES DEPOIS

CENA 19 / INTERIOR / CADEIA / SALA DE VISITAS / TARDE

Estêvão está sentado quando Terezinha entra, COMPLETAMENTE MACHUCADA, e se senta de frente para o ex-marido.

ESTÊVÃO – Tá apanhando da cadeia, é?
TEREZINHA – Pode se dizer que sim.

Estêvão ri.

TEREZINHA – O que você quer aqui?
ESTÊVÃO – Arruma teus trapos que eu arrumei um jeito de tirar todas as queixas contra você.

Terezinha se levanta.

TEREZINHA – (surpresa) Quê?!
ESTÊVÃO – (indo embora) Não pergunta, só faz. (se vira) Apesar de tudo, eu não acredito que você seja tão má assim.

Estêvão vai embora e deixa Terezinha com lágrimas nos olhos.

CORTA PARA:

CENA 20 / EXTERIOR / CADEIA / PORTÃO / TARDE

Terezinha sai com a roupa de presidiária da cadeia. A luz do sol afeta seu olhos, e ela esconde o rosto. As carcereiras enxotam Terezinha dali e ela fica olhando para a rua. Sem saber o que fazer, ela anda por ali.

CORTA PARA:

CENA 21 / EXTERIOR / RUA / MADRUGADA

Terezinha se prostituindo junto com outras mulheres e travestis. Ela entra no carro com alguns homens.

CORTA PARA:

CENA 22 / EXTERIOR / MATAGAGAL / MADRUGADA

Terezinha está se agarrando com outros caras.

TEREZINHA – São vinte reais.
HOMEM 1 – Num vamo pagar não.
TEREZINHA – (indignada) Como é que é? Me dá meu dinheiro, seu preto maldito!
HOMEM 2 – Do que tu chamou ele?
TEREZINHA – De PRETO MALDITO!
HOMEM 3 – Vai aprender a respeitar a gente!

Os homens dão socos em Terezinha, que cai no chão e é estuprada.

CORTA PARA:

CENA 23 / INTERIOR / CONSTRUTORA / MANHÃ

Estêvão está trabalhando quando olha para uma foto dele com Selma. Ele fica triste e abaixa o porta retrato. Em seguida, ele vê outras fotos dele de quando ele era feliz, porém abaixa todas e começa a chorar.

ESTÊVÃO – Como eu sou infeliz! Eu era rico e não sabia!

Selma entra.

SELMA – Também acho.
ESTÊVÃO – (se virando) Selma?
SELMA – Vim apenas para dizer que eu estou com um homem novo, e bem melhor que você.
ESTÊVÃO – E daí?

Selma se aproxima.

SELMA – E daí que eu vim aqui para ver como você está. Pelo visto, bem na merda. (ela começa a rir) Ah, Estêvão... Você foi tão feliz... Mas o dinheiro subiu à sua cabeça e tu quis trocar o certo pelo duvidoso!
ESTÊVÃO – Se você veio aqui me aporrinhar, pode ir embora.
SELMA – Já estou indo, Estêvão... Sorte com o seu novo amor: o dinheiro. Espero que ele saiba transar muito bem!

Selma vai embora e Estêvão quebra o escritório inteiro. Em seguida, ele chora mais ainda, e pega uma foto de Terezinha, que estava em sua carteira.

ESTÊVÃO – Eu te amei tanto... Por que você me traiu?! Por que, Terezinha, por quê?!

Estêvão termina sozinho.

CORTA PARA:

CENA 24 / EXTERIOR / RUA / TARDE

Terezinha está sentada na calçada. Várias pessoas estão passando e a ignorando.

TEREZINHA – (estendendo a mão) Dá um dinheiro aí pra mim comprar pão aí...

É quando uma matéria de jornal vem em sua cara. Ela pega a matéria e lê: PORTEIRO GANHA TREZENTOS MILHÕES DE REAIS DA RASPADINHA “OURO FÁCIL”. EVANIR MACEDO DIZ QUE PARTE DESSE DINHEIRO VAI PARA PAGAR O ENTERRRO DE SUA MULHER, QUE MORREU DE CÂNCER.

Terezinha sorri maliciosamente.

CORTA PARA:

CENA 25 / EXTERIOR / RUA / NOITE

Evanir está fazendo uma passeata com sua nova limusine, devido ao dinheiro que ganhou. No meio das pessoas, Terezinha está escondida entre elas. É quando ela se joga na frente do carro, que a atropela. Evanir sai, desesperado.

EVANIR – Precisa de ajuda, moça?!?!
TEREZINHA – Sim... Me ajuda, por favor!

Evanir ajuda Terezinha a se levantar.

EVANIR – (apaixonado) Com certeza.

Terezinha sorri.

CORTA PARA:

FIM

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