segunda-feira, 29 de abril de 2013

Vida Fatal - Capítulo 61


Cena 1/ Mansão Albuquerque/ Sala/ Interno/ Dia
ADRIANA: Mas o que é isso?
OTÁVIO: Vagabunda ordinária. Como você pôde?
ADRIANA: O que está acontecendo? Otávio, você bebeu?
OTÁVIO: Chega; Adriana. Acabou. Pode parar com esse teatrinho ridículo, com essa pose de puritana. Eu sei de tudo agora. Tudo.
ADRIANA (segurando as mãos de Otávio): Otávio, meu amor, qualquer coisa que tenham te falado ou que você tenha descoberto, eu quero que você saiba que são mentiras, calúnias ao meu respeito.
(Otávio dá um tapa em Adriana)
OTÁVIO: Desgraçada. O que eu descobri sobre você é o suficiente para não confiar mais em você, vagabunda. Você me fez de idiota esse tempo todo e para quê? Para me extorquir, para botar a mão no meu dinheiro. Como você consegue ser tão baixa. Como você se agüenta? Você, Adriana, me causa nojo, me faz vomitar, me dá repulsão.
ADRIANA: Nojo, sensação de vômito, repulsão? O engraçado que quando você beijava minha boca, apalpava meu corpo, me levava para cama, você não sentia nojo nenhum.
OTÁVIO: Eu não sabia a bandida interesseira que você é. O pior de tudo é que a Larissa sempre esteve aqui, do meu lado, falando toda a verdade sobre você, mas eu preferi acreditar na sua palavra porque eu confiava em você. 
ADRIANA: Otávio...
OTÁVIO: Norma. Era por esse nome que todo mundo te chamava no bordel, não era? Norma. Você tinha um caso com meu pai antes de me conhecer. Ainda bem que ele descobriu a tempo a cachorra vadia que você é e te deu um belo pé na bunda. Mas aí você pensou o seguinte: “Se eu não consegui extorquir o pai, a partir de hoje, irei investir no filho.” Claro. Você sempre soube que eu era filho do Ramiro e aquele atropelamento também foi arquitetado por você. Você estava lá, naquela calçada, pronta para se jogar na frente do meu carro, caso você o visse passando pela avenida. Devo confessar que você é uma gênia. Poderia ser atriz, sabia? Faria uma bela carreira.
ADRIANA: Eu não quero ser atriz coisíssima nenhuma. Eu quero o que é meu. O seu pai me iludiu e me fez de idiota, ele me usou e quando enjoou de mim, me jogou fora como se eu fosse um copo descartável.
OTÁVIO: Mentira. Você fez com meu pai o mesmo que estava fazendo comigo. Se tinha alguém iludido nessa história, esse alguém era ele, por que você nunca o amou, você estava apenas interessada no dinheiro dele. Mas eu quero que você saiba de uma coisa. Se você acha que vai sair dessa história com as mãos recheadas de dinheiro, você está muitíssimo enganada. Eu te garanto uma coisa, Adriana. Você vai sair dessa história mais pobre do que você entrou.

Cena 2/ Mansão Martins/ Sala/ Interno/ Dia
(A campainha toca e Sérgio atende)
SÉRGIO: Alberto? Que bom que você veio.
ALBERTO: Eu fiquei surpreso com a sua ligação. Aconteceu alguma coisa?
SÉRGIO: Aconteceu. Eu queria te pedir desculpas pelo meu comportamento rude com você durante esse tempo. Meu pai conversou comigo, abriu meus olhos em relação a tudo isso e eu percebi que você não merecia ser tratado com tanta grosseria assim. Se você me deixou para trás quando eu estava ainda na barriga da minha mãe, você deve ter tido suas razões.
ALBERTO: Eu fico feliz em ouvir isso de você. Mas não precisa pedir desculpas. Se eu estivesse na sua pele, você podia ter certeza que me comportaria desse mesmo modo que você se comportou. Quem deve se desculpar sou eu, por ter te abandonado, por ter te deixado para trás. 
SÉRGIO: Não precisa se desculpar. Alberto, a partir de agora, eu quero construir uma relação amigável com você. Não sei se irei me acostumar a te chamar de pai assim tão depressa, mas eu acho que nós deveríamos nos conhecer melhor, curtir ainda mais essa oportunidade que a vida nos deu de estarmos juntos nesse momento.
ALBERTO: Claro. Eu concordo plenamente com você. E fico muito feliz por você ser assim, Sérgio. Eu tenho muito orgulho de você e agradeço sempre pelo Otávio e pela Larissa terem criado você com valores e princípios tão éticos e morais. Nada me deixa mais alegre. Será que eu posso fazer um pedido?
SÉRGIO: Claro.
ALBERTO: Eu poderia te abraçar?
SÉRGIO (com um leve sorriso): Claro, pai.
(Alberto e Sérgio se abraçam, emocionados)

Cena 3/ Faculdade/ Campus/ Interno/ Dia
(Bruno e Jéssica estão sentados juntos e abraçados em um banco)
BRUNO: Está bem?
JÉSSICA: Pela milésima vez, sim.
BRUNO: Desculpe a insistência, mas eu me preocupo com você.
JÉSSICA: Eu sei; seu bobo.
(Jéssica ri para Bruno e lhe dá um beijo)
BRUNO: Jéssica, não existe nenhuma possibilidade de você se curar desse câncer?
JÉSSICA: Eu já disse que não, Bruno. A morte é a minha única solução. Mas não fica triste, não. Eu estou sendo uma boa menina e sei que Deus sabe disso. Tenho fé que ele vai prolongar um pouco mais meu tempo de vida.
BRUNO: Eu te amo e não queria te perder.
JÉSSICA: Eu te amo muito mais.
(Bruno e Jéssica se beijam)

Cena 4/ Delegacia/ Cela de Larissa/ Interno/ Dia
LARISSA: Você tem certeza que só falta um pouquinho para você terminar de cavar esse túnel?
MONTANHA: Certeza absoluta. Se nós pararmos na solitária hoje, dá tempo de eu terminar o túnel e se duvidar, de fugir desse Inferno também.
LARISSA: Mas como iremos para solitária juntas?
MONTANHA: Eu tenho uma idéia.

Cena 5/ Faculdade/ Sala de aula/ Interno/ Dia
(Bruno se aproxima de Juliana, que está sentada)
BRUNO: O Sérgio ainda não chegou?
JULIANA: Não. Ele me ligou que vai se atrasar um pouco. E então, conseguiu se entender com a Jéssica?
BRUNO: Sim. Mas que barra, hein? Estou tão inconformado com isso. Tanta gente ruim no mundo, essa leucemia foi parar justamente na Jéssica.
JULIANA: São os obstáculos que a vida nos impõe.
BRUNO: O mais triste ainda que ela não pode ser salva.
JULIANA: Quem disse?
BRUNO: A Jéssica.
JULIANA: Não acredito que ela fez isso.
BRUNO: Do que você está falando, Ju?
JULIANA: A Jéssica pode ser salva desse câncer, sim. O problema que só existe uma única alternativa para isso. A Jéssica precisa fazer um transplante de medula com alguém que tem o mesmo tipo sanguíneo que o dela.
BRUNO: Por que ela escondeu isso de mim?
JULIANA: Não sei.

Cena 6/ Mansão Albuquerque/ Sala/ Interno/ Dia
ADRIANA: Você não pode fazer isso. Nós nos casamos, esqueceu?
OTÁVIO: Sim, eu me lembro. E me lembro também que nos casamos em separação total de bens, ou seja, já que você não produziu nada durante esse período em que estamos casados, tudo continua me pertencendo legalmente. Acho que isso foi um pequeno errinho do seu plano.
ADRIANA: Desgraçado.
(Adriana começa a bater em Otávio, que segura as mãos da vilã e a empurra. Adriana cai no chão)
OTÁVIO: Você não tem moral nenhuma para vir me bater, ordinária.
ADRIANA: Eu te odeio.
OTÁVIO: Eu te odeio ainda mais, por você ter me feito de otário esse tempo todo. Como eu nunca consegui ver essa pessoa interesseira, falsa, ordinária que existe em você?
ADRIANA: Você é mesmo muito parecido com o Ramiro. Herdou a mesma ingenuidade e burrice do seu pai.
OTÁVIO: Eu não admito que você suje o nome do meu pai.
ADRIANA: Pai? (rindo) O Ramiro nunca te deu importância. Se você é o que é hoje, você deve a Gisele, que quis a presença da Celina na vida dela. Se dependesse do Ramiro, você estaria agora debaixo de um viaduto pedindo esmola.
(Otávio dá um tapa em Adriana, que cai)
OTÁVIO: Quem é você para falar do meu pai, vagabunda?
ADRIANA: O Ramiro não passava de uma merda que resolveu procriar um tolete fedorento como você.
(Otávio puxa os cabelos de Adriana, a levanta e a joga na parede)
OTÁVIO: Assassina. Foi você, não foi? Claro que foi. Você apareceu vestida de garçonete naquela festa para matá-lo.
ADRIANA: Eu não matei o verme do Ramiro.
OTÁVIO: E você acha que eu acredito no que sai da tua boca? Claro que foi você. E, só para te avisar, o delegado que está cuidando da investigação do assassinato do meu pai já sabe de tudo sobre você. Antes de você aparecer, eu havia ligado para ele e contado toda a verdade. Agora você também é uma suspeita do assassinato e nada me tira da cabeça que você também é a culpada.

Cena 7/ Delegacia/ Sala do delegado/ Interno/ Dia
DELEGADO: A Adriana. Mais uma suspeita desse assassinato. É. Agora tudo aponta para ela.
(Malaquias entra com um documento e mostra para o delegado)
DELEGADO: O que é isso?
MALAQUIAS: O juiz autorizou. Esse é o mandado de vistoria nas casas de todos os suspeitos.
DELEGADO: Maravilha. Com certeza, em alguma casa, deve haver algo que se ligue ao crime. O frasco do veneno, uma roupa manchada, uma ligação telefônica comprometedora, não sei, mas que deve ter, isso deve.

Cena 8/ Faculdade/ Corredor/ Interno/ Dia
(Bruno está caminhando e encontra Jéssica)
BRUNO: Ainda bem que te encontrei. Por que você mentiu para mim?
JÉSSICA: Do que está falando?
BRUNO: Você havia me dito que sua leucemia não tinha cura, mas ela tem sim por meio de um transplante de medula. Por que você não me disse isso?
JÉSSICA: Para não te preocupar. Bruno, eu já estou começando a aceitar a idéia de que tenho pouco tempo de vida. Meu tipo sanguíneo é muito raro, já entrei em contato com a maioria das pessoas que eu conheço e nenhuma pode me doar porque não apresenta o mesmo tipo sanguíneo que o meu.
BRUNO: Qual é o seu tipo sanguíneo?
JÉSSICA: AB positivo.
BRUNO: Droga. Não poderei fazer o transplante.
JÉSSICA: Viu?
BRUNO: Mas não se pode desistir, Jéssica. Eu, pelo menos, não vou desistir de você nunca. Eu irei encontrar alguém que possa fazer esse transplante. Acredita em mim.

Cena 9/ Delegacia/ Pátio/ Interno/ Dia
(Várias presas estão caminhando pelo pátio)
MONTANHA: É agora.
LARISSA: Pode deixar.
(Larissa empurra uma presa, que revida o empurrão. Montanha se aproxima da presa e lhe desfere um tapa. Larissa e Montanha começam a agredir a presa. Uma carcereira vê e separa a briga)
CARCEREIRA: Chega.
PRESA: Foram elas que começaram.
CARCEREIRA: As duas para a solitária.
(Mais duas carcereiras aparecem e seguram Montanha e Larissa)

Cena 10/ Faculdade/ Sala de aula/ Interno/ Dia
(Roberta chega e senta em uma carteira. Uma garota se aproxima dela)
GAROTA: Saia daí. Eu não quero você sentada atrás de mim.
ROBERTA: Qual é o problema?
GAROTA: Você quer mesmo que eu responda, sua aidética?
(Roberta se levanta)
ROBERTA: Aidética é a sua mãe. Mais respeito comigo.
GAROTA: Respeito? Desculpa, mas eu respeito quem se dá ao respeito. E só para constar, a turma toda separou um lugar especial para você se sentar.
(A garota aponta para um canto isolado da sala, com uma carteira)
GAROTA: É lá onde você vai sentar. Afinal, ninguém aqui quer correr o riso de ficar perto de uma infectada como você.
ROBERTA (com os olhos marejados): Eu vou. Mas eu vou por mim.
(Roberta sai)

Cena 11/ Mansão Albuquerque/ Sala/ Interno/ Dia
ADRIANA: Eu já disse que eu não matei aquele velho caquético do Ramiro. E se você me der mais um tapa, eu chamo a policia.
OTÁVIO: Chama. Aproveita que eu já contei tudo a seu respeito.
ADRIANA: Otávio, me dá pelo menos uma quantia razoável de dinheiro, que eu juro a você que te deixo em paz e sumo da sua vida.
OTÁVIO: Não. Você vai sair dessa história com dinheiro nenhum no bolso. Falando nisso, eu já cansei de você.
(Otávio pega no braço de Adriana, vai com ela até o jardim, abre o portão e a joga na rua)
OTÁVIO: Agora sim você está no lugar onde merece estar: na sarjeta, na rua.
(Otávio tranca o portão e volta para a sala. Adriana levanta-se e para em frente ao portão da mansão)
ADRIANA: OTÁVIOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO.

Cena 12/ Paisagens do Rio de Janeiro/ Noite

Cena 13/ Delegacia/ Solitária/ Interno/ Noite
(Larissa está sentada em um canto da solitária. De um buraco, surge Montanha)
MONTANHA: Pronto. Finalizei. Está tudo pronto para nós fugirmos.
LARISSA: Que bom. Pois vamos agora.
(Montanha volta ao buraco e Larissa desce. As duas rastejam pelo túnel)

Cena 14/ Rua/ Noite
(Montanha e Larissa saem de um buraco do esgoto e sentam-se na calçada)
MONTANHA: Conseguimos.
LARISSA: Graças a você. Muito obrigada por essa oportunidade.
(As duas levantam-se)
MONTANHA: Você merece. Agora, vai em frente e detém essa bandida que te jogou aqui.
LARISSA: É isso mesmo que vou fazer. E quanto a você, se cuida, hein? Seja feliz, Montanha.
MONTANHA: Com certeza. Vou sentir saudades.
LARISSA: Eu também.
(Montanha e Larissa se abraçam)
MONTANHA: Mas agora temos uma vida para retomar. Adeus.
LARISSA: Adeus. Espero te ver novamente, em algum dia.
MONTANHA: Eu também.
(Montanha e Larissa se abraçam novamente. Depois, elas seguem caminhos opostos. Larissa, já sozinha, dobra uma esquina e entra em uma rua deserta. Larissa solta o cabelo e caminha pela rua erma)
(Congela em Larissa, com uma expressão de vingança)

Nenhum comentário:

Postar um comentário