CENA 01 / MORRO D’ÁGUA / PONTO DE ÔNIBUS / TARDINHA
V. HUGO – Ué,
Gilberto... Pensei que você já soubesse!
GILBERTO – Mas quando
foi isso?!
V. HUGO – Hoje de
manhã. A Selma apanhou, mas trabalhou mesmo assim.
GILBERTO – Cacete...
Mas onde a minha irmã está?
V. HUGO – Foram pro
hospital. Acho que a Selma foi junto pra ver se está tudo bem. A Laura Dagmar e
a Sandreia estão na delegacia depondo.
Gilberto corre para o
hospital. Evanir aparece.
EVANIR – (gritando)
Gilberto! Você não cumpriu teu turno ainda não!
Evanir fica no vácuo.
CORTA PARA:
CENA 02 / INTERIOR / HOSPITAL / TARDINHA
TEREZINHA – Então,
Selma? Estou esperando a tua resposta!
Selma respira e olha
nos olhos de Terezinha.
SELMA – Terezinha,
quando você saiu a Sandreia tinha ligado pra polícia. O máximo que nós podíamos
fazer era esperar a polícia aparecer pra prestar depoimento. Eu também apanhei
dos bandidos.
TEREZINHA – Você
apanhou, não foi espancada! Eu fraturei a costela, Selma! Nunca fui tão humilhada
na minha vida e.../
Terezinha quase perde
a consciência e se apoia em Selma. Esta, meio desorientada, põe Terezinha em
cima de um banco.
SELMA – Você está bem,
Terezinha?
TEREZINHA – (começa a
chorar) Ai, Selma... Eu sou muito humilhada! Por que eu? Por quê?!
Terezinha abraça
Selma. Gilberto entra e vê a irmã chorando, se juntando e formando um abraço coletivo.
TEREZINHA – (chorando)
Ai, Gilberto...!
No meio da cena,
Terezinha vê Calixto observando tudo de longe. Ela toma um susto e começa a
tossir.
GILBERTO – Acho que
ela vai vomitar. Selma chama o médico!
TEREZINHA –
(interrompendo a tosse) Não, não precisa! Estou bem... Agora, vamos pra
delegacia porque o delegado tá esperando a gente pra prestar depoimento.
Os três vão embora do
hospital e Terezinha lança um olhar cortante para Calixto.
CORTA PARA:
CENA 03 / INTERIOR / MANSÃO / SALA / NOITE
Lurdinha, Antônio,
Beto e Laura estão conversando na sala. Delma serve um copo d’água para cada um
deles.
LURDINHA – Então,
papai, quando vai ser a festa da nova filial da “Cosméticos Brasil”?
ANTÔNIO – Amanhã mesmo.
LURDINHA – Mas como
vou me produzir?! Terei que faltar à faculdade, só assim.
ANTÔNIO – Para a
festa, você pode.
LAURA – Mas é a
FACULDADE, Antônio. Essa menina já faltou três aulas nesse semestre! Agora vai
faltar por causa de uma festinha?
ANTÔNIO – Não é uma
“festinha”, sua idiota. É a festa de lançamento da nova filial da empresa que
sustenta a esta casa, a faculdade da Lurdinha e os teus caprichos, Laura! Tanto
tempo no exterior que eu havia me esquecido de como você é burra.
O clima fica tenso.
Laura quase chora.
BETO – (tentando
amenizar a situação) A Patrícia vai vir?
ANTÔNIO – Patrícia
está estudando direito na Holanda, não pode se dar o luxo de sair de um país
tão distante para vir para esta festa.
LURDINHA – (se
levanta) Mas eu tenho né?! O senhor sempre gostou mais da Patrícia do que de
mim... Só porque eu repeti o primeiro e o segundo grau três vezes!
ANTÔNIO – Não é bem
assim, minha filha... Eu.../
LURDINHA – /Não quero
saber!
Lurdinha sobe para o
seu quarto.
ANTÔNIO – Isso tudo é
culpa sua, Laura! Incompetente! Nem pra cuidar das filhas você serve!
LAURA – Mas toda vez
que eu ia ensinar alguma coisa você me dava um tapa na cara afirmando que eu
era uma péssima mãe!
Antônio fica
constrangido. Beto se levanta.
BETO – Bem... Acho que
já está na minha hora... Boa noite para vocês.
Beto vai embora e
Antônio dá um tapa na cara de Laura, que cai do sofá.
ANTÔNIO – Quer que eu
perca o meu sócio, é, vadia?! Se você falar da minha vida pra mais alguém, te
dou uma surra, entendeu?
LAURA – (com medo)
Uhum!
ANTÔNIO – Bem...
Agora, vou sair com a Karla.
LAURA – (se
levantando) Que Karla?
ANTÔNIO – Minha amante,
oras! Cadê o motorista?
LAURA – Eu tive que
demitir porque ele estava tentando me assediar e.../
ANTÔNIO – Isso mesmo,
meu bem. Está cumprindo direitinho com a parte do acordo! Bem, eu mesmo dirijo.
Antônio vai embora e
Delma aparece, correndo.
DELMA – Liga pra
polícia, dona Laura! Eu te ajudo!
LAURA – Não, não,
Delma... Não precisa... Desde que ele pague meus cartões de créditos, eu aceito
essa humilhação. Está dispensada, pode ir pra casa.
Laura sobe para o seu
quarto e Delma vai embora, estupefata com o que viu e ouviu.
CORTA PARA:
CENA 04 / MORRO D’ÁGUA / INTERIOR / CASA DE VICTOR
HUGO / SALA / NOITE.
Victor Hugo está
terminando de se arrumar quando Tom entra, desolado.
V. HUGO – Qual foi rapá?
TOM – Não passei no
teste...
V. HUGO – Bem feito!
Foi largar o serviço na minha mão... Já falei pra você desistir dessa bobeira
de ser ator, cara. Tô esperando até agora você pagar a tua parte do aluguel.
TOM – Ih, Victor! Fica
calmo! Me mudei pra cá pensando que ia arrumar emprego rápido, que pagasse bem,
mas nada!
V. HUGO – O emprego lá
do Hortifruti não dá milhões, mas paga o quartinho! Se você parasse de gastar
tudo com curso de teatro e teste...
TOM – Mas eu não vou
desistir! Não vou desistir nunca!
V. HUGO – Bem, então
fica aí chorando porque eu vou sair com a Delminha!
TOM – Nossa, hem, esse
namoro tá dando certo!
V. HUGO – (ironia) Ih,
para de jogar olho gordo, rapá!
Os dois riem e Victor
sai.
CORTA PARA:
CENA 05 / MORRO D’ÁGUA / INTERIOR / BAR / NOITE
Delma e Victor Hugo estão
tomando uma cerveja no bar ao som de um pagode.
DELMA – Quanto tempo a
gente não sair junto, meu amor!
V. HUGO – Finalmente
nós arranjamos uma brecha no trabalho pra poder namorar um pouquinho...
Os dois dão um
selinho.
DELMA – Então, Victor,
estava pensando... Você não quer trabalhar lá na mansão comigo?
V. HUGO – Eu...? Na
mansão...?
DELMA – É, você. A
dona Laura demitiu um motorista safado e aquele monstro do marido dela voltou
de viagem hoje. Topa?
V. HUGO – Mas e o
salário?
DELMA – Com certeza é
bem melhor do que o de um verdureiro! E nós poderíamos namorar escondido...
V. HUGO – Tudo bem.
Amanhã eu vou lá contigo, então. O Tom não tá pagando a parte dele nas despesas
da casa, mesmo...
DELMA – Ótimo! Então,
deixa eu te contar as novidades...
Eles ficam conversando
no bar.
CENA 06 / INTERIOR / DELEGACIA / NOITE
Selma sai da sala do
delegado e encontra Terezinha, Gilberto, Laura Dagmar e Sandreia no banco de
espera.
DELEGADO – Senhora
Terezinha Ramos de Souza, por favor, me acompanhe.
GILBERTO – Quer que eu
vá com você, Terezinha?
TEREZINHA –
(debilitada) Não precisa... Se quiser ir pra casa...
GILBERTO – Não! De
jeito nenhum!
SELMA – Bem, então
fiquem aí os dois porque eu tô indo.
L. DAGMAR – Também vou
contigo, Selma.
SANDREIA – Vou também.
Hoje o dia foi barra pesada.
SELMA – Então vamos.
Tchau, Gilberto. Melhoras, Terezinha
TEREZINHA – (irônica)
Que horas a primeira cliente chega, mesmo?
Selma olha bem pra
cara de Terezinha.
SELMA – Não precisa ir
trabalhar Terezinha. Volte depois de uma ou duas semanas, tanto faz.
Selma vai embora
enquanto Laura e Sandreia estão se despedindo dos irmãos.
DELEGADO – Vamos
senhorita?
Terezinha se levanta,
com dificuldade, e vai até a sala do delegado. Gilberto está aflito.
CORTA PARA:
CENA 06 / EXTERIOR / DELEGACIA / NOITE
ESTEVÃO – (off)
Delegacia, Selma?
SELMA – (ao cel.) É,
Estevão. Tive que prestar depoimento e só acabou agora. Tá tudo bem contigo?
CORTA PARA:
CENA 07 / MORRO D’ÁGUA / CASA DE ESTEVÃO E SELMA /
SALA / NOITE
Estevão, de banho
tomado, está falando ao celular. Assim que ouve a pergunta de Selma, olha para
mais uma raspadinha que ele comprou sem ter ganhado nada.
ESTEVÃO – (triste, ao
cel.) Está, sim, amor. Vai abrir o salão amanhã?
CORTA PARA:
CENA 08 / EXTERIOR / DELEGACIA / NOITE
SELMA – (ao cel.) Vou
sim. A Sandreia e a Laura Dagmar disseram que vão trabalhar. Já até foram pra
casa. Se elas forem, dá pra tratar das jubas de algumas mocreias daí do morro.
CORTA PARA:
CENA 09 / MORRO D’ÁGUA / CASA DE ESTEVÃO E SELMA /
SALA / NOITE
ESTEVÃO – (ri, ao
cel.) Então, tá, Selma. Tô te esperando aqui em casa. Beijo, amor.
SELMA – (off) Beijo.
Estevão desliga o
celular e o joga no sofá. Em seguida, pega a raspadinha, se levanta e, ao
passar pela janela da sala, joga o papel dali mesmo.
ESTEVÃO – Amanhã eu
vou conseguir...
CORTA PARA:
CENA 10 / INTERIOR / DELEGACIA / MADRUGADA
Terezinha sai da sala
do delegado e encontra Gilberto dormindo ali mesmo, na cadeira. Nada gentil, um
policial o acorda, que fica meio desnorteado ao ver a irmã, mas depois,
recupera o controle.
GILBERTO – Já terminou
Terezinnha?
TEREZINHA – Sim,
sim... Vamos pra casa?
GILBERTO – Vamos...
CORTA PARA:
CENA 11 / INTERIOR / TÁXI / MADRUGADA
Os dois estão sentados
no banco de trás do táxi. Gilberto com um braço envolvendo Terezinha.
GILBERTO – Tereza, que
mal lhe pergunte, mas...
TEREZINHA – Mas...
GILBERTO – Os sequestradores...
Eles tentaram fazer alguma coisa com você?
TEREZINHA – Fizeram e
conseguiram né, Gilberto? Não tá me vendo toda estrupiada aqui, não?
GILBERTO – Não...
Estou falando de... Eles tentaram te estuprar?
Terezinha hesita.
TEREZINHA – Tentaram.
GILBERTO – Eles
conseguiram?!
TEREZINHA – Não... Um
carro apareceu no meio da pista e eles fugiram.
GILBERTO – Graças a
Deus, minha irmã!
TEREZINHA – Mas fica
tranquilo, que o pinto deles não devia ser do tamanho do seu não.
Gilberto fica constrangido.
TEREZINHA – Os deles
deviam ser menores...
Os dois riem e
Gilberto beija a testa de Terezinha.
FIM DO
CAPÍTULO 4
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