quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Capitulo 4 de Pulo do Gato

CENA 01 / MORRO D’ÁGUA / PONTO DE ÔNIBUS / TARDINHA

V. HUGO – Ué, Gilberto... Pensei que você já soubesse!
GILBERTO – Mas quando foi isso?!
V. HUGO – Hoje de manhã. A Selma apanhou, mas trabalhou mesmo assim.
GILBERTO – Cacete... Mas onde a minha irmã está?
V. HUGO – Foram pro hospital. Acho que a Selma foi junto pra ver se está tudo bem. A Laura Dagmar e a Sandreia estão na delegacia depondo.

Gilberto corre para o hospital. Evanir aparece.

EVANIR – (gritando) Gilberto! Você não cumpriu teu turno ainda não!

Evanir fica no vácuo.

CORTA PARA:

CENA 02 / INTERIOR / HOSPITAL / TARDINHA

TEREZINHA – Então, Selma? Estou esperando a tua resposta!

Selma respira e olha nos olhos de Terezinha.

SELMA – Terezinha, quando você saiu a Sandreia tinha ligado pra polícia. O máximo que nós podíamos fazer era esperar a polícia aparecer pra prestar depoimento. Eu também apanhei dos bandidos.
TEREZINHA – Você apanhou, não foi espancada! Eu fraturei a costela, Selma! Nunca fui tão humilhada na minha vida e.../

Terezinha quase perde a consciência e se apoia em Selma. Esta, meio desorientada, põe Terezinha em cima de um banco.

SELMA – Você está bem, Terezinha?
TEREZINHA – (começa a chorar) Ai, Selma... Eu sou muito humilhada! Por que eu? Por quê?!

Terezinha abraça Selma. Gilberto entra e vê a irmã chorando, se juntando e formando um abraço coletivo.

TEREZINHA – (chorando) Ai, Gilberto...!

No meio da cena, Terezinha vê Calixto observando tudo de longe. Ela toma um susto e começa a tossir.

GILBERTO – Acho que ela vai vomitar. Selma chama o médico!
TEREZINHA – (interrompendo a tosse) Não, não precisa! Estou bem... Agora, vamos pra delegacia porque o delegado tá esperando a gente pra prestar depoimento.

Os três vão embora do hospital e Terezinha lança um olhar cortante para Calixto.
CORTA PARA:

CENA 03 / INTERIOR / MANSÃO / SALA / NOITE

Lurdinha, Antônio, Beto e Laura estão conversando na sala. Delma serve um copo d’água para cada um deles.

LURDINHA – Então, papai, quando vai ser a festa da nova filial da “Cosméticos Brasil”?
ANTÔNIO – Amanhã mesmo.
LURDINHA – Mas como vou me produzir?! Terei que faltar à faculdade, só assim.
ANTÔNIO – Para a festa, você pode.
LAURA – Mas é a FACULDADE, Antônio. Essa menina já faltou três aulas nesse semestre! Agora vai faltar por causa de uma festinha?
ANTÔNIO – Não é uma “festinha”, sua idiota. É a festa de lançamento da nova filial da empresa que sustenta a esta casa, a faculdade da Lurdinha e os teus caprichos, Laura! Tanto tempo no exterior que eu havia me esquecido de como você é burra.

O clima fica tenso. Laura quase chora.

BETO – (tentando amenizar a situação) A Patrícia vai vir?
ANTÔNIO – Patrícia está estudando direito na Holanda, não pode se dar o luxo de sair de um país tão distante para vir para esta festa.
LURDINHA – (se levanta) Mas eu tenho né?! O senhor sempre gostou mais da Patrícia do que de mim... Só porque eu repeti o primeiro e o segundo grau três vezes!
ANTÔNIO – Não é bem assim, minha filha... Eu.../
LURDINHA – /Não quero saber!

Lurdinha sobe para o seu quarto.

ANTÔNIO – Isso tudo é culpa sua, Laura! Incompetente! Nem pra cuidar das filhas você serve!
LAURA – Mas toda vez que eu ia ensinar alguma coisa você me dava um tapa na cara afirmando que eu era uma péssima mãe!

Antônio fica constrangido. Beto se levanta.

BETO – Bem... Acho que já está na minha hora... Boa noite para vocês.

Beto vai embora e Antônio dá um tapa na cara de Laura, que cai do sofá.

ANTÔNIO – Quer que eu perca o meu sócio, é, vadia?! Se você falar da minha vida pra mais alguém, te dou uma surra, entendeu?
LAURA – (com medo) Uhum!
ANTÔNIO – Bem... Agora, vou sair com a Karla.
LAURA – (se levantando) Que Karla?
ANTÔNIO – Minha amante, oras! Cadê o motorista?
LAURA – Eu tive que demitir porque ele estava tentando me assediar e.../
ANTÔNIO – Isso mesmo, meu bem. Está cumprindo direitinho com a parte do acordo! Bem, eu mesmo dirijo.

Antônio vai embora e Delma aparece, correndo.

DELMA – Liga pra polícia, dona Laura! Eu te ajudo!
LAURA – Não, não, Delma... Não precisa... Desde que ele pague meus cartões de créditos, eu aceito essa humilhação. Está dispensada, pode ir pra casa.

Laura sobe para o seu quarto e Delma vai embora, estupefata com o que viu e ouviu.

CORTA PARA:

CENA 04 / MORRO D’ÁGUA / INTERIOR / CASA DE VICTOR HUGO / SALA / NOITE.

Victor Hugo está terminando de se arrumar quando Tom entra, desolado.

V. HUGO – Qual foi rapá?
TOM – Não passei no teste...
V. HUGO – Bem feito! Foi largar o serviço na minha mão... Já falei pra você desistir dessa bobeira de ser ator, cara. Tô esperando até agora você pagar a tua parte do aluguel.
TOM – Ih, Victor! Fica calmo! Me mudei pra cá pensando que ia arrumar emprego rápido, que pagasse bem, mas nada!
V. HUGO – O emprego lá do Hortifruti não dá milhões, mas paga o quartinho! Se você parasse de gastar tudo com curso de teatro e teste...
TOM – Mas eu não vou desistir! Não vou desistir nunca!
V. HUGO – Bem, então fica aí chorando porque eu vou sair com a Delminha!
TOM – Nossa, hem, esse namoro tá dando certo!
V. HUGO – (ironia) Ih, para de jogar olho gordo, rapá!

Os dois riem e Victor sai.

CORTA PARA:

CENA 05 / MORRO D’ÁGUA / INTERIOR / BAR / NOITE

Delma e Victor Hugo estão tomando uma cerveja no bar ao som de um pagode.

DELMA – Quanto tempo a gente não sair junto, meu amor!
V. HUGO – Finalmente nós arranjamos uma brecha no trabalho pra poder namorar um pouquinho...

Os dois dão um selinho.

DELMA – Então, Victor, estava pensando... Você não quer trabalhar lá na mansão comigo?
V. HUGO – Eu...? Na mansão...?
DELMA – É, você. A dona Laura demitiu um motorista safado e aquele monstro do marido dela voltou de viagem hoje. Topa?
V. HUGO – Mas e o salário?
DELMA – Com certeza é bem melhor do que o de um verdureiro! E nós poderíamos namorar escondido...
V. HUGO – Tudo bem. Amanhã eu vou lá contigo, então. O Tom não tá pagando a parte dele nas despesas da casa, mesmo...
DELMA – Ótimo! Então, deixa eu te contar as novidades...

Eles ficam conversando no bar.

CENA 06 / INTERIOR / DELEGACIA / NOITE
Selma sai da sala do delegado e encontra Terezinha, Gilberto, Laura Dagmar e Sandreia no banco de espera.

DELEGADO – Senhora Terezinha Ramos de Souza, por favor, me acompanhe.
GILBERTO – Quer que eu vá com você, Terezinha?
TEREZINHA – (debilitada) Não precisa... Se quiser ir pra casa...
GILBERTO – Não! De jeito nenhum!
SELMA – Bem, então fiquem aí os dois porque eu tô indo.
L. DAGMAR – Também vou contigo, Selma.
SANDREIA – Vou também. Hoje o dia foi barra pesada.
SELMA – Então vamos. Tchau, Gilberto. Melhoras, Terezinha
TEREZINHA – (irônica) Que horas a primeira cliente chega, mesmo?

Selma olha bem pra cara de Terezinha.

SELMA – Não precisa ir trabalhar Terezinha. Volte depois de uma ou duas semanas, tanto faz.

Selma vai embora enquanto Laura e Sandreia estão se despedindo dos irmãos.

DELEGADO – Vamos senhorita?

Terezinha se levanta, com dificuldade, e vai até a sala do delegado. Gilberto está aflito.

CORTA PARA:

CENA 06 / EXTERIOR / DELEGACIA / NOITE

ESTEVÃO – (off) Delegacia, Selma?
SELMA – (ao cel.) É, Estevão. Tive que prestar depoimento e só acabou agora. Tá tudo bem contigo?

CORTA PARA:

CENA 07 / MORRO D’ÁGUA / CASA DE ESTEVÃO E SELMA / SALA / NOITE

Estevão, de banho tomado, está falando ao celular. Assim que ouve a pergunta de Selma, olha para mais uma raspadinha que ele comprou sem ter ganhado nada.

ESTEVÃO – (triste, ao cel.) Está, sim, amor. Vai abrir o salão amanhã?

CORTA PARA:

CENA 08 / EXTERIOR / DELEGACIA / NOITE

SELMA – (ao cel.) Vou sim. A Sandreia e a Laura Dagmar disseram que vão trabalhar. Já até foram pra casa. Se elas forem, dá pra tratar das jubas de algumas mocreias daí do morro.

CORTA PARA:

CENA 09 / MORRO D’ÁGUA / CASA DE ESTEVÃO E SELMA / SALA / NOITE

ESTEVÃO – (ri, ao cel.) Então, tá, Selma. Tô te esperando aqui em casa. Beijo, amor.
SELMA – (off) Beijo.

Estevão desliga o celular e o joga no sofá. Em seguida, pega a raspadinha, se levanta e, ao passar pela janela da sala, joga o papel dali mesmo.

ESTEVÃO – Amanhã eu vou conseguir...

CORTA PARA:

CENA 10 / INTERIOR / DELEGACIA / MADRUGADA

Terezinha sai da sala do delegado e encontra Gilberto dormindo ali mesmo, na cadeira. Nada gentil, um policial o acorda, que fica meio desnorteado ao ver a irmã, mas depois, recupera o controle.

GILBERTO – Já terminou Terezinnha?
TEREZINHA – Sim, sim... Vamos pra casa?
GILBERTO – Vamos...

CORTA PARA:

CENA 11 / INTERIOR / TÁXI / MADRUGADA

Os dois estão sentados no banco de trás do táxi. Gilberto com um braço envolvendo Terezinha.

GILBERTO – Tereza, que mal lhe pergunte, mas...
TEREZINHA – Mas...
GILBERTO – Os sequestradores... Eles tentaram fazer alguma coisa com você?
TEREZINHA – Fizeram e conseguiram né, Gilberto? Não tá me vendo toda estrupiada aqui, não?
GILBERTO – Não... Estou falando de... Eles tentaram te estuprar?

Terezinha hesita.

TEREZINHA – Tentaram.
GILBERTO – Eles conseguiram?!
TEREZINHA – Não... Um carro apareceu no meio da pista e eles fugiram.
GILBERTO – Graças a Deus, minha irmã!
TEREZINHA – Mas fica tranquilo, que o pinto deles não devia ser do tamanho do seu não.

Gilberto fica constrangido.

TEREZINHA – Os deles deviam ser menores...

Os dois riem e Gilberto beija a testa de Terezinha.

FIM DO CAPÍTULO 4

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