sexta-feira, 19 de abril de 2013

Vida Fatal - Capítulo 55



Cena 1/ Delegacia/ Interno/ Dia
OTÁVIO: Eu sou filho do seu Ramiro?
CELINA: Filho, o seu Ramiro nunca foi rico como ele costumava aparentar.
OTÁVIO: Eu sei. Ele veio de uma favela.
CELINA: A mesma favela que você nasceu. Eu conheci o seu pai de lá. A gente namorou por bastante tempo, mas o Ramiro sempre foi muito ambicioso, queria subir na vida a qualquer preço. Até que ele conheceu a Marieta, irmã da Gisele. Ele conquistou rapidamente a família dela e já estava combinando de se casar com ela. Houve um dia que ele terminou tudo comigo e saiu da favela. O problema é que, antes do casamento, a Marieta acabou morrendo e, com medo de voltar à pobreza em que vivia, seu pai começou a cortejar a Gisele e os pais dela aceitaram um casamento entre os dois. Foi assim que tudo aconteceu.
OTÁVIO: Ele sabia que eu era filho dele?
CELINA: Sabia. Quando eu descobri que ele tinha se casado com a Gisele, eu fui atrás dele e disse que ele tinha um filho. Nessa época, você era apenas um recém-nascido. Ele não quis nem saber. Me ofereceu dinheiro para sumir da vida dele com você, mas a Gisele acabou descobrindo e veio falar comigo. Ela me ofereceu o emprego de governanta da mansão e permitiu que você fosse morar com eles, juntamente comigo.
OTÁVIO: E a reação do seu Ramiro?
CELINA: A pior possível, mas, com o passar do tempo, ele foi se acostumando com a nossa presença, se afeiçoando a você. Foi por isso que eu nunca se revoltei contra a dona Gisele. Primeiro, porque ela não tinha culpa nenhuma da cafajestagem do seu pai. Segundo, porque ela me ajudou naquele momento que eu mais precisava. Sempre guardei agradecimentos a ela.
OTÁVIO: Eu não sei nem o que pensar. Nunca passou pela minha cabeça que eu sou filho do Ramiro.
CELINA: Você me perdoa; filho? Eu sei que, desde criança, era direito seu saber da verdade, mas eu tive medo de você se sentir influenciado pelo Ramiro, de você se tornar um homem igual ou pior do que ele.
OTÁVIO: Não precisa pedir perdão, mãe. Eu sei que a senhora omitiu essa história com a melhor das intenções, para me proteger.
(Otávio abraça Celina)
CELINA: Não assuma essa culpa, meu filho. Por mim.
OTÁVIO: Não farei. Quer ir para casa?
CELINA: Sim.
OTÁVIO: Vamos, Sérgio?
SÉRGIO: E quanto a minha mãe? Como é que ela fica?
OTÁVIO: Eu vou combinar um preço de fiança com o delegado, mas sua avó se emocionou muito agora, e eu também. Vamos deixá-la primeiro em casa.
DELEGADO: Esperem. Eu não sabia que a senhora, dona Celina, conhecia tão bem o seu Ramiro. Eu gostaria de bater um papo com a senhora a respeito dele. Pode ser?

Cena 2/ Faculdade/ Enfermaria/ Interno/ Dia
JÉSSICA: ah, você está falando dessas manchas? Nem eu sei como apareceram aqui. Será que foi algum mosquito que me picou e eu não percebi?
BRUNO: Não sei. Você tem certeza que não está doente?
JÉSSICA: Err... Pelo que eu saiba, não.
(Jéssica finge um sorriso)
JÉSSICA: É claro que eu não estou doente. Se eu estivesse, eu saberia, não?

Cena 3/ Delegacia/ Cela de Larissa/ Interno/ Dia
(Larissa está sentada em um canto. Montanha, sua companheira de cela, se aproxima dela)
MONTANHA: Aceita um pedaço de pão?
LARISSA: Não. Obrigada.
MONTANHA: Por que você está aqui?
LARISSA: Por nada. Eu não fiz nada.
MONTANHA: Eu também não fiz nada. Tanto é que estou aqui, presa.
LARISSA (levantando-se): Mas é verdade. Eu estou aqui injustamente.
MONTANHA: Patricinha dividindo a cela comigo e depois, esses merdas de jornalistas, ficam dizendo que só negro da favela que comete crime, que mata gente, que assalta banco.
LARISSA: E o que você fez para estar aqui?
MONTANHA: Eu era traficante de drogas no morro onde eu morava, mas estou aqui há um tempão, sem previsão de sair. Vou ser julgada, sabia?
LARISSA: Não.
MONTANHA: Como é teu nome?
LARISSA: Larissa.
MONTANHA: Sou Montanha.
(Montanha estende a mão para Larissa cumprimentá-la)
MONTANHA: Não vai apertar minha mão?
(Larissa cumprimenta Montanha)

Cena 4/ Hospício/ Pátio/ Interno/ Dia
PAULA: Eu tenho uma irmã gêmea que me colocou aqui. Mas eu não sou louca.
SARA: Eu também não sou louca. Quer dizer, eu sou. Ah, não sei.
(Paula dá um leve sorriso)
PAULA: Até que você é uma boa companhia.
SARA: Você também.
PAULA: Ai meu Deus. Não pode ser.
(Paula, que está com uma garrafa de água na mão, deixa a garrafa cair)
SARA: Sua garrafa caiu no chão.
(Paula vai em direção a Luzia, que está sentada em um banco)
PAULA: Mãe?
LUZIA: Filha.
(Luzia levanta-se e abraça Paula)
PAULA: O que a senhora está fazendo aqui?
LUZIA: A Thais. Ela me jogou aqui dentro.
PAULA: Eu desconfiei disso quando te vi aqui. 
LUZIA: A sua irmã está louca, Paula. Ela está fingindo ser você para todo mundo.
PAULA: Eu sei. Ela veio aqui e me disse isso como se fosse a coisa mais natural do mundo.
LUZIA: Nós precisamos acabar com isso, filha. Nós precisamos deter a Thais.
PAULA: Mas antes, a gente precisa sair daqui.

Cena 5/ Mansão Albuquerque/ Sala/ Interno/ Dia
LUCIANA: Você matou a Karinne e ainda acusou a Larissa de matar o Ramiro?
ADRIANA: Não sou uma gênia?
LUCIANA: Não. A partir de agora, você é uma assassina. Meu Deus, Adriana. Você não era assim.
ADRIANA: Eu sempre fui assim, só você que não teve competência para enxergar isso.
LUCIANA: Já ouvi demais. Da próxima vez, me chama quando você já estiver limpa o suficiente para pagar esse crime que cometeu.
(Luciana sai)

Cena 6/ Delegacia/ Interno/ Dia
DELEGADO: Você acabou de se referir ao Ramiro como um cafajeste.
CELINA: Sim. Me referi mesmo. Por quê?
DELEGADO: Você falou com tanto rancor, tanto ressentimento.
OTÁVIO: Desculpa a intromissão, delegado, mas essa conversa já foi longe demais. Vamos, mãe.
(Celina levanta-se)
CELINA: Até mais, delegado.
(Celina, Otávio e Sérgio saem. Malaquias entra)
MALAQUIAS: Você desconfiou da dona Celina?
DELEGADO: Não foi uma desconfiança, mas achei estranho demais ela comentar que já conhecia o Ramiro só agora.

Cena 7/ Delegacia/ Cela de César/ Interno/ Dia
(O guarda para em frente a cela onde estão César e Brutus e entrega para César uma quentinha. O guarda sai)
CÉSAR: Eu não vou comer essa gororoba.
(César joga a quentinha contra a parede, mas acaba atingindo Brutus)
BRUTUS: Seu maldito.
(Brutus pega no colarinho de César e saca um canivete)
BRUTUS: Quais serão suas últimas palavras?
CÉSAR: Eu tenho um plano de fuga. E eu tenho certeza que você não tem nenhum. Eu posso te ajudar a fugir daqui.
(Brutus abaixa o canivete e solta César)
BRUTUS: E como é esse plano?
CÉSAR: Fácil. É só a gente provocar uma rebelião aqui e fugir pelo portão dos fundos da delegacia que é protegido por apenas um policial. Mas, do jeito que você é forte e grande, você massacra ele todinho com apenas um soco.
BRUTUS: Gostei do plano. Quando vai ser?

Cena 8/ Hospício/ Interno/ Dia
LUZIA: E como a gente fugiria daqui?
PAULA: Eu venho pensando nisso há um tempinho e cheguei a um plano de fuga.
SARA: E como ele é?
PAULA: É simples. Como o muro daqui é muito baixo, é só a gente pular.
SARA: Mas ele é todo protegido por cerca elétrica.
PAULA: É por isso que eu vou precisar da ajuda de cada uma de vocês. Vocês topam?
LUZIA e SARA: Sim
PAULA: Então, eu estou pensando em colocar o plano em prática amanhã. Mas para ele dar certo, não pode apresentar nenhuma falha.
LUZIA: E o que iremos fazer?
PAULA: Sara, amanhã, você terá que fingir que está tendo um ataque, mas um ataque que chame a atenção de todos os enfermeiros. Com isso, a senhora, mãe, vai até o resistor, que está lá naquela parede (Paula aponta para o resistor) e desliga a cerca elétrica. Quando a senhora desligar, a senhora faz um gesto para mim. Eu, que estarei perto daquele banco alto, verei seu gesto, subirei nele e pularei o muro.
LUZIA: E depois? Quanto a nós?
PAULA: Eu arranjarei roupas parecidas com as da Thais e me vestirei como ela. Depois, eu voltarei para cá, fingindo ser a Thais, e soltarei vocês duas.
SARA: E você acha que consegue fingir ser a sua irmã?
PAULA: Se ela está conseguindo me imitar perfeitamente, é claro que eu conseguirei imitá-la de forma perfeita também.

Cena 9/ Apartamento de Luciana/ Sala/ Interno/ Dia
(A campainha toca e Luciana atende)
LUCIANA: Guilherme?
GUILHERME: Cadê minha filha? Eu vim aqui para buscá-la. Ela voltará a morar comigo.

Cena 10/ Casa de Paula/ Quarto de Paula/ Interno/ Dia
RENATO: Estava me lembrando do nosso jantar de noivado.
THAIS (fingindo ser Paula): Ah é?
RENATO: Só achei estranha uma coisa. Por que você não quis anunciar a sua gravidez para os nossos convidados?
THAIS: Eu queria que você anunciasse; meu amor. Só isso.
(Thais beija Renato)

Cena 11/ Delegacia/ Cela de Larissa/ Interno/ Dia
(O guarda se aproxima da cela onde estão Larissa e Montanha)
GUARDA: Larissa Martins?
LARISSA: Oi.
GUARDA: Você tem visita.

Cena 12/ Delegacia/ Sala de visita/ Interno/ Dia
(O guarda abre a porta da sala e Larissa entra)
LARISSA: Adriana?
ADRIANA: Oi, Larissa querida. Tudo bem com você? Como está sendo a estadia aqui? É bom?
LARISSA: Vai embora.
ADRIANA: Ah não. Eu vim até aqui saber como você está. Quem diria, hein? Você é assassina do Ramiro? Tô chocada.
LARISSA: EU não matei ninguém. Eu estou aqui de forma injusta. 
ADRIANA: Mas e a carta de confissão que encontraram nas tuas coisas, querida?
LARISSA: Aquilo foi uma arm... Espera aí. Foi você. Você invadiu minha casa e colocou aquela carta nas minhas coisas. Foi você, sua vadia.
ADRIANA: Nossa. Que menina inteligente. Acertou na mosca.
LARISSA: Vadia. Como você pôde fazer isso? Pior. Como você pôde matar a Karinne? Como?
ADRIANA: O quê?
LARISSA: Não se faça de desentendida. Foi você que esfaqueou a Karinne até a morte. Cretina. Desgraçada. Ordinária. Você não tinha esse direito.
ADRIANA: Sinceramente, eu não sei do que você está falando.
LARISSA: Sabe sim, sua cínica. Mas você matou a Karinne em vão, porque ela já havia me dito tudo o que eu precisava saber. Como é mesmo? Sua prostitutazinha de bordel.
(Adriana ri)
LARISSA: Norma. Não era esse o nome por qual todo mundo te chamava? De Norma. Você se apresentava dançando pole dance, satisfazendo o prazer de um monte de velho nojento. Tô mentindo? Diz na minha cara que eu estou mentindo.
ADRIANA: Está querida. Você mente bastante.
LARISSA: Pode continuar com esse cinismo estúpido, mas o melhor vem aí. Você era amante do seu Ramiro. A amante na qual ele prometia rios e rios de dinheiro, fortuna e mordomia. Não é verdade?
ADRIANA: Cala essa boca.
LARISSA: Calar por quê? Ainda bem que o seu Ramiro reconheceu o tipo de vadia que você é há tempos.
ADRIANA: Ele criou falsas expectativas em mim. Ele prometeu tanta coisa boa para mim, e depois me jogou fora, me cuspiu da vida dele como se eu fosse um nada. 
LARISSA: E o que você fez? Decidiu se vingar, não foi? Foi por isso que você apareceu disfarçada de garçonete naquela festa. Porque você estava lá para matar o seu Ramiro e você o matou envenenado, sua cretina
ADRIANA: Eu não matei o seu Ramiro.
LARISSA: Claro que matou. Tanto é que você está me fazendo de cobaia agora. Você decidiu jogar a culpa do assassinato em cima de mim para que a polícia não descobrisse nunca que você é a verdadeira assassina.
ADRIANA: EU não fui lá para matar aquele velho caquético. Eu só queria assustá-lo. Eu só queria que ele soubesse que eu estava próxima dele. Só isso.
(Larissa segura no braço de Adriana)
LARISSA: Por que você não é verdadeira pelo menos uma vez na vida e confessa que você matou o Ramiro, que você é a assassina de Ramiro Albuquerque?
(Congela em Adriana)

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