CENA 01 /
EXTERIOR / ALTO DA BOA VISTA / TARDE
Terezinha e Calixto veem o carro pegando fogo.
TEREZINHA – Acho melhor você fugir com os teus caras pra bem longe.
CALIXTO – Mas e se a tal Selma desconfiar que fui eu quem assaltou o
salão.
TEREZINHA – Ela não te
conhece, nunca falou contigo. Portanto, nunca vai descobrir.
CALIXTO – Mas o
tamanho, porte físico...
TERZINHA – Não
complica Calixto! Agora foge e volta lá pras 18h00, anda!
Calixto está indo
embora quando um dos bandidos o para no meio do caminho.
BANDIDO 1 – E a nossa
grana, garota?
Terezinha e Calixto se
olham, assustados.
TEREZINHA – Fica
tranqüilo, que ela vai pro seu bolso dentro de alguns dias...
BANDIDO 2 – Acho bom,
se não você estará mais do que ferrada.
Os bandidos fogem
junto com Calixto. Depois de um tempo, ela desce o alto e começa a implorar
ajuda para alguns carros que passam. Um dos motoristas vê Terezinha toda
machucada e a ajuda.
MOTORISTA – Ta indo
pra onde, moça?
TEREZINHA –
(dissimulada) Pra qualquer lugar longe daqui, pelo amor de Deus!
Terezinha entra no
carro e vai embora.
CORTA PARA:
CENA 02 / EXTERIOR / OBRA / TARDE
Estevão está se
matando de trabalhar, colocando cimento nos tijolos, levando carrinho de um
lado para o outro, carregando sacos e mais sacos de areia e pedra. Quando
resolve dar uma descansada para beber uma água, Valmir aparece.
VALMIR – Ué? A moça
cansou, foi?
ESTEVÃO – (impaciente)
To só bebendo água, Seu Valmir. Num pode também, não, é?
VALMIR – Enquanto não
tivermos cumprido 50%, não. E se depender de gente lerda que nem você não vai
sair dos 25% tão cedo. E vê se toma um banho melhor porque não gosto de trabalhar
com peão fedendo a boi.
MENTE DE ESTEVEÃO
Valmir vai embora e
Estevão dá uma chave de braço no patrão. Todos os outros peões veem a cena e
começa a gritar, excitados com a briga. Estevão larga Valmir no chão, prende
suas pernas e dá uma série de socos na cara do patrão. No final, cospe na cara
dele.
REALIDADE
Estevão respira fundo
e continua o seu trabalho.
CORTA PARA:
CENA 03 / INTERIOR / MORRO D’ÁGUA / SALÃO SAUDITA /
TARDE
Selma, Sandreia e
Laura Dagmar estão trabalhando junto com outras cabeleireiras do salão. É
quando dois policiais entram, deixando Laura toda ouriçada. Ela vai atendê-los.
L. DAGMAR –
(oferecida) Posso ajudar?
POLICIAL 1 – É sobre um roubo seguido de seqüestro que
ocorreu hoje de manhã.
L. DAGMAR – Eu sou
“tistimunha”, Seu polícia! Tava lá e vi a minha colega ser seqüestrada por um
bonde de ladrão! Quer me levar pra delegacia pra prestar meu depoimento?
Reação do policial,
que fica sem entender nada.
POLICIAL 2 – Venha
conosco, senhorita.../
SANDREIA – /Eu e ela
(aponta pra Selma) somos testemunhas. Inclusive, minha amiga até apanhou na
cara.
SELMA – (constrangida)
Sandreia!...
POLICIAL 1 – Queremos
as três pra prestar depoimento. Já que a senhorita apanhou, faz um exame de
corpo de delito. Já acionamos as viaturas e.../
Terezinha aparece
junto com o motorista que a resgatou.
TEREZINHA – Acho que
vou ter que fazer um exame de corpo de delito também.
Todos do salão ficam
chocados com o estado de Terezinha.
POLICIAL 1 – Fecha
essa porra e todo mundo pra delegacia!
CORTA PARA:
CENA 04 / INTERIOR / MORRO D’ÁGUA / HORTIFRUTI / TARDE
Tom e Victor Hugo
estão terminando de empilhar as caixas com verduras.
VICTOR HUGO – Já ta
sabendo do seqüestro da Terezinha?
TOM – Aquela garota
metida, irmã do Gilberto?
V. HUGO – Pois é... De
manhã uns ladrões vieram pra assaltar o salão da Selma. Como a coitada não deu
o dinheiro que eles queriam, levaram a Terezinha e ainda deram uma bofetada na
cara da mulher.
TOM – Cacete! Mas ninguém
viu isso?
V. HUGO – Sim... o
marido da Selma. Estevão tava descendo pra ir pro trabalho, pegou um cano
jogado no meio da calçada e tacou na cabeça do bandido. O coitado levou uns
socos, mas foi pro trabalho assim mesmo.
TOM – Valentão ele,
hem....
V. HUGO – Mas tomou
surra de bandido.
Os dois riem. Tom vê a
hora no relógio e toma um susto.
TOM – Victo Hugor,
preciso te pedir um favor...
V. HUGO – Que favor?
TOM – Ér...(se
desvencilhando do amigo) É que eu preciso ir pra um teste aí...
V. HUGO – Teste?
TOM – É, cara... Um
teste... Acoberta minha saída com o chefe aí, quebra meu galho...
V. HUGO – O cacete que
eu vou!
Tom sai correndo.
V. HUGO – Tom, volta
aqui!
CORTA PARA:
CENA 05 / EXTERIOR / TEATRO LENDÁRIO / TARDE
Um monte de gente está
do lado de fora do teatro esperando para serem chamados e fazer o teste para a
peça “Monte Carlo”. Tom desce do ônibus e entra no meio do povo. Ele encontra
uma menina e resolve investir.
TOM – Está tentando
teste também?
MOÇA – Sim. Vou tentar
pra Vírginia.
TOM – A prostituta
lésbica que se apaixona por um travesti?
MOÇA – Isso mesmo! E
você, vai fazer pra quem?
TOM – Eu?...
FLASHBACK /
INTERIOR / TEATRO LENDÁRIO / RECEPÇÃO
Na cena estão Tom e
uma secretária qualquer.
SECRETÁRIA – Então, só
sobrou estes personagens aqui (aponta com a caneta): O travesti, o cachorro e a
árvore.
TOM – Quero o
travesti. Tem destaque!
SECRETÁRIA – Não,
querido, esse é outro travesti.
TOM – Mas pensei que
só tinha um travesti na peça.
SECRETÁRIA – Há dois:
o protagonista e o confidente do amigo do primo da tia avó da prima da amiga da
protagonista.
TOM – Pelo menos tem
alguma fala?
SECRETÁRIA – Na
verdade, não. Só é citado.
TOM – Bem, e o
cachorro?
SECRETÁRIA – Faz
au-au.
TOM – Me põe como
árvore.
CORTA PARA:
REALIDADE
TOM – (cont.) Vou
fazer pro... pro... para aquele cara...
MOÇA – O Lucas?
TOM – Lucas...
MOÇA – O vilão! Que
ótimo... (se aproximando) Qual é seu nome mesmo?
Quando ele abre a boca
pra falar, a secretária aparece na porta do teatro.
SECRETÁRIA – (gritando)
número 9.364: Tomásvaldo Josetônyo das Cruzes!
Tom fica MUITO
constrangido com o nome. Algumas pessoas riem, mas ele vai lentamente.
SECRETÁRIA –
(gritando) número 9.364: Tomásvaldo Josetônyo das CRU-ZES!
Tom corre para dentro
do teatro, deixando a moça para trás.
CORTA PARA:
CENA 06 / INTERIOR / TEATRO LENDÁRIO / TARDE
O diretor está
esperando impaciente quando Tom entra no palco.
DIRETOR – Qual o seu
nome?
TOM – Tom Cruzes.
DIRETOR – Você parece
o Tom Cruise.
TOM – Não diga,
vadia...
DIRETOR – QUÊ?!
TOM – Nada...
DIRETOR – Vai fazer
teste pra quê?
TOM – Pra árvore...
DIRETOR – O.K..
Levante os braços como se fosse o Cristo Redentor e junte as pernas.
Tom faz o que o
diretor manda. Este logo fica com uma cara de nojo.
DIRETOR – Não passou
no teste.
TOM – Por quê?
DIRETOR – Respire
fundo.
Tom respira.
DIRETOR – Seu sovaco
fede a caviar! Não posso colocar uma árvore fedida na minha peça! Agora, saia
daqui antes que você infecte o teatro inteiro!
TOM – É que eu vim
correndo e.../
DIRETOR - /PRÓXIMO!
Tom vai embora
desolado e fedido.
CORTA PARA:
CENA 07 / INTERIOR / AEROPORTO / TARDE
Laura e Lurdinha estão
esperando por Antônio, que chega junto com Beto.
LURDINHA – Papai!
Lurdinha abraça
Antônio e cumprimenta Beto. Já Laura, faz o oposto: abraça Beto e cumprimenta
Antônio.
ANTÔNIO – Vamos,
porque eu estava morrendo de saudade do Brasil!
Eles seguem para a
mansão.
CORTA PARA:
CENA 08 / INTERIOR / HOSPITAL / TARDINHA
Terezinha sai do
consultório cheia de curativos. Por coincidência, encontra Selma no corredor.
SELMA – Você está bem,
Terezinha?
TEREZINHA – Pra quem
foi sequestrada, até que dou pro gasto.
SELMA – Ainda bem. Vim
fazer exame de corpo de delito. Aqui neste hospital tem uma ala apenas para
isso.
TEREZINHA – Tinha que
fazer exame pra cara de pau também.
SELMA – (espantada)
Como assim?
TEREZINHA – Como você
teve coragem de trabalhar mesmo com o meu sequestro?
Selma fica
constrangida.
CORTA PARA:
CENA 09 / MORRO D’ÁGUA / PONTO DE ÔNIBUS / TARDINHA
Gilberto e Evanir descem
do ônibus e cumprimentam os amigos. É quando Victor Hugo, que está subindo com
algumas caixas, encontra o amigo no trabalho e vai falar com ele.
GILBERTO – Beleza,
Victor Hugo?
V. HUGO – Pô, beleza
Gilberto. E você? Tá melhor?
GILBERTO – Não estive mal
antes pra estar melhor agora.
V. HUGO – Nossa cara,
como você é insensível!
GILBERTO – Hã?
V. HUGO – Como você
não fica mal com o sequestro da tua própria irmã?
GILBERTO – (estupefato)
A Terezinha foi sequestrada?!
FIM DO
CAPÍTULO 3
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