quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Vida Fatal - Capítulo 4


Cena 1/ Mansão Martins/ Sala/ Interno/ Noite
LARISSA: Responda, Otávio. Quem é a biscateira?
OTÁVIO: Não tem mulher nenhuma na história. Eu só queria que você entendesse que nosso casamento está indo mal. 
LARISSA: Mentira. Eu acabei de propor uma trégua. Se o motivo fosse a crise do nosso casamento, você teria aceitado minha proposta.
OTÁVIO: Não quero discutir com você, Larissa. Essa é uma decisão minha.
LARISSA: Otávio, boa noite.
(Larissa sobe as escadas)

Cena 2/ Mansão Martins/ Corredor/ Interno/ Noite
(Sérgio sai do quarto e vê Larissa caminhando no corredor)
SÉRGIO: Mãe, o que aconteceu? É o papai que está aí embaixo?
LARISSA: Era, porque pelo jeito, ele saiu. Aconteceu que seu pai me pediu a separação.
SÉRGIO: E isso não é ótimo? Iremos ficar livres dele de uma vez por todas, sem falar que ele não merece seu carinho, sua atenção, seu amor.
LARISSA: Mas eu amo seu pai, filho.
SÉRGIO: E a senhora aceitou o divórcio?
LARISSA: Desconversei.

Cena 3/ Apartamento de Adriana/ Sala/ Interno/ Noite
OTÁVIO: Ela não disse que aceitava o divórcio nem disse que não aceitava.
ADRIANA: Pelo jeito, ela não quer se separar de você.
OTÁVIO: Mas eu quero. E você estava certa esse tempo todo. Eu não sou mais feliz naquele casamento. Eu sou feliz com você.
ADRIANA: Eu te amo, sabia?
OTÁVIO: Sabia. Eu te juro que vou me separar da Larissa e me casar com você. Eu não sossegarei enquanto não me divorciar dela.
(Otávio e Adriana se abraçam. Adriana dá um sorriso maléfico)

Cena 4/ Apartamento de Guilherme/ Quarto de Juliana/ Interno/ Noite
(Juliana está ao telefone)
JULIANA: Já fez sua inscrição?
(pausa)
JULIANA: Que maravilha, meu amor. Eu fiz a minha ontem. Não esquece que as provas são nesse final de semana.
(pausa)
JULIANA: Boa noite. Te amo, meu amor.
(Juliana coloca o celular em cima do criado-mudo e, ao virar-se, se depara com Guilherme)
GUILHERME: Quem é “meu amor”?
JULIANA: Oi, pai. Boa noite para você também.
GUILHERME: Não me enrola, Ju. Quem é esse tal de “meu amor”?
JULIANA: É uma amiga minha.
GUILHERME: E você chama sua amiga de “meu amor”?
JULIANA: Qual é o problema? Nós, mulheres, não temos essas convenções idiotas de relacionamento que vocês, homens, impõem. Uma amizade entre mulheres é baseada em abraços, beijos, carinhos, lealdade.
GUILHERME: Então, é bom mesmo que seja só uma amiga sua. Se for algum namorado, trate logo de terminar antes que eu descubra.
(Guilherme sai)

FINAL DE SEMANA

Cena 5/ Mansão Martins/ Sala/ Interno/ Dia
(Larissa desce as escadas e vê Otávio)
LARISSA: Se for para falar do divórcio, é melhor desistir de falar comigo.
OTÁVIO: Não adianta fugir dessa conversa, Larissa. Eu quero a separação.
LARISSA: Por quê?
OTÁVIO: Larissa, nosso casamento não tem mais lógica nem fundamento. Nós não somos mais felizes juntos.
LARISSA: Mentira. Eu propus uma trégua para a nossa relação
OTÁVIO: E você acha que uma mera proposta de trégua vai salvar nosso casamento? Um casamento com três anos de crise?
LARISSA: Chega, Otávio. Eu não vou te dar divórcio nenhum.
OTÁVIO: Tudo bem. Eu queria uma separação amigável, mas parece que terei que apelar para o divórcio litigioso.
(Sérgio desce a escada)
SÉRGIO: Tchau, mãe.
OTÁVIO: Para onde você vai?
LARISSA: O Sérgio vai fazer uma prova de vestibular.
OTÁVIO: O Sérgio? Prestando vestibular? Nunca pensei que estaria vivo para presenciar um milagre desses. Porque você não me contou antes?
SÉRGIO: Como se a minha vida tivesse alguma importância para você.
LARISSA: Boa prova, filho.
SÉRGIO: Obrigado, mãe.
(Sérgio sai)
LARISSA: Sabe por que o Sérgio tem uma relação muito difícil com você?
(Otávio permanece calado)
LARISSA: Pelo jeito, não.
OTÁVIO: Larissa, eu não vim falar sobre o Sergio...
LARISSA: Ele é frio e seco com você, justamente porque você não deu a atenção e o carinho paterno que ele precisava. Quando ele era criança, ele ficava me perguntando que horas você ia chegar da empresa, quando você ia ensiná-lo a jogar futebol. Mas a sua ausência na educação do nosso filho só fez nascer dentro dele um rancor, uma mágoa muito grande. Pensa nisso.
(Larissa sai)

Cena 6/ Casa de Paula/ Quarto de Paula/ Interno/ Dia
(Renato e Paula estão deitados, juntos.)
PAULA: Ainda bem que o seu Ramiro te liberou nessa manhã. É tão bom passar uma manhã com você.
RENATO: A manhã toda não. Até as 10, que por sinal, já está bem aí.
(Renato se levanta e começa a se vestir)
PAULA: Não vai embora agora, amor.
RENATO: Você sabe que eu não queria, mas esse trabalho é muito importante e não posso correr o risco de perdê-lo. Hoje à noite, eu passo aqui. Eu te amo.
(Renato beija Paula. Renato sai)
PAULA: Também te amo. Bom trabalho.
(Paula se levanta da cama e começa a se vestir. A campainha toca.)
PAULA: O que foi que o Renato se esqueceu dessa vez? Mas esse meu namorado é muito esquecido.
(Paula atende e gela.)
PAULA: Thaís?
THAIS: Não estava com saudades da sua irmã? Melhor ainda, da sua irmã gêmea?
PAULA: Claro que estou. Entra.
(Thais entra)
THAIS: Sua casa é muito linda, irmã.
PAULA: Obrigada. E como estão as coisas lá em Ribeirão Preto?
THAIS: Continua na mesma. Quem era aquele moço que saiu daqui?
PAULA: É o Renato, meu namorado.
THAIS: Bonito, hein? Tirou a sorte grande. Namorado bonito, uma vida estabilizada aqui no Rio.
PAULA: Trabalhar em publicidade é bem prazeroso.
THAIS: O que está acontecendo com você, Paulinha? Estou te achando tão estranha. Está incomodada com a minha presença?
PAULA: Não é bem isso... Na verdade, é.
THAIS: O que?
PAULA: Thais, eu nunca contei a ninguém que eu tinha uma irmã gêmea.
THAIS: Por quê? Você tem vergonha de mim, é isso, Paulinha?

Cena 7/ Portaria da Faculdade/ Dia
(Sérgio sai da sua moto e beija Juliana)
SÉRGIO: Está muito tempo me esperando?
JULIANA: Não, acabei de chegar. Que moto é essa?
SÉRGIO: Minha mãe me deu quando eu contei a ela que ia prestar vestibular.
JULIANA (rindo): Dona Larissa é uma graça. Bom, vamos entrar? Daqui a pouco o portão fecha.
SÉRGIO: Vamos.
JULIANA: Sabia que vamos ficar na mesma sala?
SÉRGIO: É, parece que até o destino está torcendo para nos ver juntos.

Cena 8/ Casa de Paula/ Sala/ Interno/ Dia
PAULA: Vergonha? Claro que não.
THAIS: Eu já entendi tudo, Paula. É vergonha sim. Mas não se preocupa, não. Eu não vou mais morar aqui, na sua casa.
PAULA: Você veio para morar?
THAIS: Claro, ou só você tem o direito de ter uma vida legal no Rio?
PAULA: Você tem todo o direito de ter uma vida aqui e eu faço questão que você se hospede na minha casa.
THAIS: Eu não quero, Paula.
PAULA: Mas vai ficar. Eu prometo que vou me acostumar com a idéia de que minha irmã gêmea vai ficar definitivamente aqui.
(As irmãs se abraçam)

Cena 9/ Paisagens do Rio de Janeiro/ Anoitecendo

Cena 10/ Portaria da Faculdade/ Noite
JULIANA: Amei a prova, e você?
SÉRGIO: Deu para o gasto.
JULIANA: A gente vai passar. Eu tenho certeza.
SÉRGIO: Amor, eu já estou indo. Tô passando por uma barra lá em casa.
JULIANA: Tudo bem. Daqui a pouco meu pai chega e não vai ser legal ele ver nós dois juntos.
(Sérgio e Juliana beijam-se. Sérgio sobe na moto. Sérgio liga a moto e parte.)

Cena 11/Pista/ Noite
(Sérgio está na moto, quando vê um sinal. Ele tenta frear a motocicleta, mas o freio não cede)
SÉRGIO: Droga. Será que essa bosta veio com defeito? Freia, freia.
(Sérgio aperta o freio, mas a moto não freia. Para não ultrapassar o semáforo, ele dobra a moto e se choca com um muro. Sérgio cai da moto, e em câmera lenta, sua cabeça bate no meio fio da calçada.)
(Congela em Sérgio, com a cabeça ensangüentada)

FIM DO CAPITULO

Nenhum comentário:

Postar um comentário