CENA 01 / EXTERIOR /
JARDINS DO ÉDEN / DIA
Leôncio
e Lucília estão brincando, ainda crianças, nos jardins de uma infinita beleza:
os jardins do Éden. Entra narrativa:
“Era
uma vez um homem triste e frustrado com a vida. Tinha tudo o que um homem
moderno poderia querer: dinheiro, poder, carros, mulheres, dinheiro, iates,
mulheres, trave, digo, mulheres e mais mulheres para saciar seus desejos.
Porém, não tinha o essencial: o amor de uma moça em especial...”.
CORTA
PARA:
LEÔNCIO
– Você não me pega!
LUCÍLIA
– Pego sim! Fica parado pra você ver se eu não consigo te alcançar.
Lucília
continua a brincar de pique-pega com Leôncio até que ele se joga no chão,
ofegante. Lucília deita ao seu lado, ofegante também, e olha dentro dos olhos
de seu amigo.
LUCÍLIA
– Por que parou?
LEÔNCIO
– Porque queria ficar olhando para os teus olhos.
LUCÍLIA
– Mas precisa se deitar no chão pra isso?
LEÔNCIO
– Só assim para eu olhá-los com calma.
As
duas bocas se aproximam lentamente, prestes a se beijarem.
CORTA
PARA:
CENA 2 / INTERIOR / MANSÃO
/ QUARTO DE LEÔNCIO / DIA
RIO DE JANEIRO – 1970
Leôncio
cai da cama. O baque é forte e ele grita de dor. A imagem congela em seu rosto
contorcido. Entra narrativa:
“Este
é Leôncio Dussek Carvalho Monteiro Duarte dos Anjos, o homem que tinha tudo e
não tinha nada.”. (Entra imagens da vida de Leôncio, de acordo com a
narrativa a seguir) “Desde pequeno foi
educado para assumir a cadeira de dono da empresa de cosméticos JAZIRA, criada
em 1756, no Irã, após a Itália invadir o território e tomar todos os produtos
produzidos até então. Desde aquela época, a empresa foi passando de geração em
geração às mãos de homens cujas nacionalidades sempre foram diferentes dos
antigos donos.
Seu
pai, Hamish Dussek, se casou com a irlandesa Hermélia no Titanic quando tinha
apenas nove anos de idade, no Titanic. A cerimônia foi comemorada na homenagem
às vítimas, dois meses depois. O pai de Hamish justificava que quanto mais novo
se iniciava a vida sexual, mas filhos tinham. Uma teoria completamente sem
fundamento, já que Hamish e Hermélia tiveram apenas dois: Dorgivaldo Marcelo e
Leôncio, com 13 e 17 anos respectivamente. Dorgivaldo fugiu com uma judia para
o interior da Eslovênia e desde 1949 não se ouve mais falar dele. Coube a
Leôncio suceder os negócios do pai e hoje comanda todo um império no alto dos
seus 50 anos de idade.”.
CENA 03 / INTERIOR / MANSÃO
/ SALA DE ESTAR / DIA
Leôncio
descendo as escadas encontra Hermélia tomando seu café da manhã: um chá com
dois pedaços de banana.
LEÔNCIO
(espantado) – Mamãe! Só isso que a senhora está comendo?
HERMÉLIA
– Só isso? É muita coisa! Ou você acha que eu estou inteirinha aos 67 anos de
idade comendo arroz e feijão? Se
toca, meu filho, tenho que me preparar para quando eu for pega pelos militares.
LEÔNCIO
– Mas a senhora não vai ser pega pelos militares, mamãe. Cadê a empregada?
HERMÉLIA
– A de palha de aço?
Ouve-se
um barulho vindo da cozinha.
LEÔNCIO
– Que isso?
HERMÉLIA
– São os militares! Eles invadiram a cozinha para me torturar no fogão! Vou
pegar a minha espingarda antes que
eles me cozinhem viva!
Leôncio
vai até a cozinha enquanto Hermélia corre para subir as escadas.
CENA 04 / INTERIOR / MANSÃO
/ COZINHA / DIA
Waleshka
está quebrando os pratos em cima da empregada.
WALESHKA
– (irada) Sua ninfeta estragada! Suco de petróleo! Nunca mais quero você aqui, ouviu preta?
JUSSARA
– Mãe, para de jogar pratos na empregada!
WALEHSKA
– Cala a boca, garota! Se não eu te jogo da janela!
LEÔNCIO
– O que é isso aqui? Tá maluca, Waleshka? Por que você tá jogando os pratos na Sandra?
SANDRA
– (desesperada) Eu quero demissão, doutor! Agora! Essa doida entendeu tudo errado!
WALESHKA
– Doida não!
Waleshka
taca mais um prato na empregada, que desvia.
LEÔNCIO
– (berrando) Quero saber o que está acontecendo aqui!
Todos
olham para Leôncio. Entra narrativa:
“E
assim começa a primeira fase da nossa história”.
LEÔNCIO
– Agora me digam, com calma, o que estava acontecendo para você tacar os pratos em cima da pobre Sandra.
JUSSARA
– Pai, foi o seguinte: a mamãe pediu para a Sandrinha fazer misto-quente, mas a
torradeira quebrou porque a
própria mamãe jogou água nos fios! Daí o pão ficou mais preto que meu lápis da escola.
WALESHKA
– Mentira desta pestinha! (Pega Jussara pelos cabelos e joga sua cabeça na
quina da mesa) Ela que jogou a
água, a empregada! A preta! A imunda!
SANDRA
– Se você me chamar de preta mais uma vez...
Leôncio
vai acudir a filha, que está chorando desesperadamente.
LEÔNCIO
– Waleshka, você machucou a sua filha! Você tá maluca?!
WALESHKA
– Vocês todos são uma corja de mal encarados! Eu vou para o meu quarto!
Waleshka
sai da cozinha e vai para o seu quarto. Sandra vai ajudar Leôncio com Jussara,
que continua chorando.
SANDRA
– Deixa que eu cuido da sua menina.
LEÔNCIO
– Não é caso de hospital, não?
SANDRA
– Por pouco, hem. Por muito pouco.
Sandra
pega Jussara no colo e começa a acariciar a sua cabeça, a fim de fazê-la
acalmar. Os dois caminham em direção aos fundos da mansão.
CORTA
PARA:
CENA 05 / INTERIOR /
SEGUNDO ANDAR / MANSÃO / CORREDOR / DIA
Waleshka
está andando em direção ao seu quarto quando encontra Hermélia vestida de índia
com uma espingarda na mão.
WALESHKA
– Que isso, Hermélia?
HERMÉLIA
– Os militares! Estão invadindo!
WALESHKA
– Não tem nenhum militar, sua velha retardada.
HERMÉLIA
– Não? Mas eu ouvi.../corta.
WALESHKA
- /Você não ouviu nada, você está ficando louca e burra, isso sim.
Waleshka
vai até o seu quarto e tranca a porta. Hermélia fica com cara de taxo no meio
do corredor.
CORTA
PARA:
CENA 06 / INTERIOR /
SEGUNDO ANDAR / MANSÃO / QUARTO CASAL / DIA
Waleshka
vê a foto de sua filha na escrivaninha de Leôncio e a joga pela janela.
Enfurecia, ela quebra o quarto inteiro e só descansa quando se vê completamente
desfigurada no espelho. Imagem congela no espelho refletindo sua imagem. Entra
narração:
“Waleshka
Maria Silva Souza sempre foi uma probetona com o sonho de ser rica. Tem trinta
anos de idade e só conseguiu se casar com Leôncio após ganhar visibilidade com
o concurso ‘Garota Militar 60’, quando tinha vinte anos. Engravidou no primeiro
ano de casamento e hoje odeia mais do que tudo a própria filha.
Um monstro em forma de perua.”.
Waleshka
vê duas passagens para o cruzeiro ‘Popa & Proa’ e agarra os papeis como se
fossem os últimos da face da Terra.
WALESHKA
– Esta é a minha chance...
CORTA
PARA:
CENA 07 / INTERIOR / MANSÃO
/ QUARTINHO DE SANDRA / DIA
Sandra
está cuidando do ferimento de Jussara, que acabou adormecendo em seus braços.
LEÔNCIO
– Muito obrigado, Sandra... Se não fosse você, estaria/corta
SANDRA
– /Estaria o quê? Sem sexo? Por favor, Leôncio, só estou aqui porque você
prometeu se separar dessa piranha
que tu chama de “mulher” pra me assumir. E outra: essa vadia já tá passando dos limites, me chamando de “preta”,
“maldita”, “puta”... Não sou de levar
desaforo pra casa e não fui criada vendo mãe jogar criança na quina de uma mesa!
LEÔNCIO
– O que você pensa em fazer?
SANDRA
– (olha para o ferimento) Segura essa gaze no machucado da tua filha que eu já
volto.
Sandra
se levanta e sai do quarto rapidamente. Leôncio fica apreensivo.
CORTA
PARA:
CENA 08 / INTERIOR / MANSÃO
/ QUARTO CASAL / DIA
Waleshka
está deitada sob a cama completamente desarrumada quando Sandra entra sem nem
pedir licença. Waleshka se levanta, assustada.
WALESHKA
– Mas o que é isso? O que a preta veio fazer aqui desse jeito?
Sandra
dá um tapa na cara de Waleshka, que cai no chão.
SANDRA
– A preta veio “limpar” a mão na tua cara.
FIM
DO PRIMEIRO CAPÍTULO
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