segunda-feira, 7 de maio de 2012

Capitulo 1 de Batalha do Éden

CENA 01 / EXTERIOR / JARDINS DO ÉDEN / DIA

Leôncio e Lucília estão brincando, ainda crianças, nos jardins de uma infinita beleza: os jardins do Éden. Entra narrativa:

            “Era uma vez um homem triste e frustrado com a vida. Tinha tudo o que um homem moderno poderia querer: dinheiro, poder, carros, mulheres, dinheiro, iates, mulheres, trave, digo, mulheres e mais mulheres para saciar seus desejos. Porém, não tinha o essencial: o amor de uma moça em especial...”.

CORTA PARA:

LEÔNCIO – Você não me pega!
LUCÍLIA – Pego sim! Fica parado pra você ver se eu não consigo te alcançar.

Lucília continua a brincar de pique-pega com Leôncio até que ele se joga no chão, ofegante. Lucília deita ao seu lado, ofegante também, e olha dentro dos olhos de seu amigo.

LUCÍLIA – Por que parou?
LEÔNCIO – Porque queria ficar olhando para os teus olhos.
LUCÍLIA – Mas precisa se deitar no chão pra isso?
LEÔNCIO – Só assim para eu olhá-los com calma.

As duas bocas se aproximam lentamente, prestes a se beijarem.

CORTA PARA:

CENA 2 / INTERIOR / MANSÃO / QUARTO DE LEÔNCIO / DIA

RIO DE JANEIRO – 1970

Leôncio cai da cama. O baque é forte e ele grita de dor. A imagem congela em seu rosto contorcido. Entra narrativa:

            “Este é Leôncio Dussek Carvalho Monteiro Duarte dos Anjos, o homem que tinha tudo e não tinha nada.”. (Entra imagens da vida de Leôncio, de acordo com a narrativa a seguir) “Desde pequeno foi educado para assumir a cadeira de dono da empresa de cosméticos JAZIRA, criada em 1756, no Irã, após a Itália invadir o território e tomar todos os produtos produzidos até então. Desde aquela época, a empresa foi passando de geração em geração às mãos de homens cujas nacionalidades sempre foram diferentes dos antigos donos.
Seu pai, Hamish Dussek, se casou com a irlandesa Hermélia no Titanic quando tinha apenas nove anos de idade, no Titanic. A cerimônia foi comemorada na homenagem às vítimas, dois meses depois. O pai de Hamish justificava que quanto mais novo se iniciava a vida sexual, mas filhos tinham. Uma teoria completamente sem fundamento, já que Hamish e Hermélia tiveram apenas dois: Dorgivaldo Marcelo e Leôncio, com 13 e 17 anos respectivamente. Dorgivaldo fugiu com uma judia para o interior da Eslovênia e desde 1949 não se ouve mais falar dele. Coube a Leôncio suceder os negócios do pai e hoje comanda todo um império no alto dos seus 50 anos de idade.”.

CENA 03 / INTERIOR / MANSÃO / SALA DE ESTAR / DIA

Leôncio descendo as escadas encontra Hermélia tomando seu café da manhã: um chá com dois pedaços de banana.

LEÔNCIO (espantado) ­– Mamãe! Só isso que a senhora está comendo?
HERMÉLIA – Só isso? É muita coisa! Ou você acha que eu estou inteirinha aos 67 anos de idade comendo arroz e feijão? Se toca, meu filho, tenho que me preparar para quando eu for pega pelos militares.
LEÔNCIO – Mas a senhora não vai ser pega pelos militares, mamãe. Cadê a empregada?
HERMÉLIA – A de palha de aço?

Ouve-se um barulho vindo da cozinha.

LEÔNCIO – Que isso?
HERMÉLIA – São os militares! Eles invadiram a cozinha para me torturar no fogão! Vou pegar a minha espingarda antes que eles me cozinhem viva!

Leôncio vai até a cozinha enquanto Hermélia corre para subir as escadas.

CENA 04 / INTERIOR / MANSÃO / COZINHA / DIA

Waleshka está quebrando os pratos em cima da empregada.

WALESHKA – (irada) Sua ninfeta estragada! Suco de petróleo! Nunca mais quero você aqui, ouviu preta?
JUSSARA – Mãe, para de jogar pratos na empregada!
WALEHSKA – Cala a boca, garota! Se não eu te jogo da janela!
LEÔNCIO – O que é isso aqui? Tá maluca, Waleshka? Por que você tá jogando os pratos na Sandra?
SANDRA – (desesperada) Eu quero demissão, doutor! Agora! Essa doida entendeu tudo errado!
WALESHKA – Doida não!

Waleshka taca mais um prato na empregada, que desvia.

LEÔNCIO – (berrando) Quero saber o que está acontecendo aqui!

Todos olham para Leôncio. Entra narrativa:

            “E assim começa a primeira fase da nossa história”.

LEÔNCIO – Agora me digam, com calma, o que estava acontecendo para você tacar os pratos        em cima da pobre Sandra.
JUSSARA – Pai, foi o seguinte: a mamãe pediu para a Sandrinha fazer misto-quente, mas a             torradeira quebrou porque a própria mamãe jogou água nos fios! Daí o pão ficou mais             preto que meu lápis da escola.
WALESHKA – Mentira desta pestinha! (Pega Jussara pelos cabelos e joga sua cabeça na quina        da mesa) Ela que jogou a água, a empregada! A preta! A imunda!
SANDRA – Se você me chamar de preta mais uma vez...

Leôncio vai acudir a filha, que está chorando desesperadamente.

LEÔNCIO – Waleshka, você machucou a sua filha! Você tá maluca?!
WALESHKA – Vocês todos são uma corja de mal encarados! Eu vou para o meu quarto!

Waleshka sai da cozinha e vai para o seu quarto. Sandra vai ajudar Leôncio com Jussara, que continua chorando.

SANDRA – Deixa que eu cuido da sua menina.
LEÔNCIO – Não é caso de hospital, não?
SANDRA – Por pouco, hem. Por muito pouco.

Sandra pega Jussara no colo e começa a acariciar a sua cabeça, a fim de fazê-la acalmar. Os dois caminham em direção aos fundos da mansão.

CORTA PARA:

CENA 05 / INTERIOR / SEGUNDO ANDAR / MANSÃO / CORREDOR / DIA

Waleshka está andando em direção ao seu quarto quando encontra Hermélia vestida de índia com uma espingarda na mão.
WALESHKA – Que isso, Hermélia?
HERMÉLIA – Os militares! Estão invadindo!
WALESHKA – Não tem nenhum militar, sua velha retardada.
HERMÉLIA – Não? Mas eu ouvi.../corta.
WALESHKA - /Você não ouviu nada, você está ficando louca e burra, isso sim.

Waleshka vai até o seu quarto e tranca a porta. Hermélia fica com cara de taxo no meio do corredor.

CORTA PARA:

CENA 06 / INTERIOR / SEGUNDO ANDAR / MANSÃO / QUARTO CASAL / DIA

Waleshka vê a foto de sua filha na escrivaninha de Leôncio e a joga pela janela. Enfurecia, ela quebra o quarto inteiro e só descansa quando se vê completamente desfigurada no espelho. Imagem congela no espelho refletindo sua imagem. Entra narração:

            “Waleshka Maria Silva Souza sempre foi uma probetona com o sonho de ser rica. Tem trinta anos de idade e só conseguiu se casar com Leôncio após ganhar visibilidade com o concurso ‘Garota Militar 60’, quando tinha vinte anos. Engravidou no primeiro ano de casamento e hoje odeia mais do que tudo a própria filha.
            Um monstro em forma de perua.”.

Waleshka vê duas passagens para o cruzeiro ‘Popa & Proa’ e agarra os papeis como se fossem os últimos da face da Terra.

WALESHKA – Esta é a minha chance...

CORTA PARA:

CENA 07 / INTERIOR / MANSÃO / QUARTINHO DE SANDRA / DIA

Sandra está cuidando do ferimento de Jussara, que acabou adormecendo em seus braços.

LEÔNCIO – Muito obrigado, Sandra... Se não fosse você, estaria/corta
SANDRA – /Estaria o quê? Sem sexo? Por favor, Leôncio, só estou aqui porque você prometeu         se separar dessa piranha que tu chama de “mulher” pra me assumir. E outra: essa            vadia já tá passando dos limites, me chamando de “preta”, “maldita”, “puta”... Não     sou de levar desaforo pra casa e não fui criada vendo mãe jogar criança na quina de         uma mesa!
LEÔNCIO – O que você pensa em fazer?
SANDRA – (olha para o ferimento) Segura essa gaze no machucado da tua filha que eu já volto.

Sandra se levanta e sai do quarto rapidamente. Leôncio fica apreensivo.

CORTA PARA:

CENA 08 / INTERIOR / MANSÃO / QUARTO CASAL / DIA

Waleshka está deitada sob a cama completamente desarrumada quando Sandra entra sem nem pedir licença. Waleshka se levanta, assustada.

WALESHKA – Mas o que é isso? O que a preta veio fazer aqui desse jeito?

Sandra dá um tapa na cara de Waleshka, que cai no chão.

SANDRA – A preta veio “limpar” a mão na tua cara.

FIM DO PRIMEIRO CAPÍTULO

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