CENA
1: Noite – Casa de William - Sala
Lívia e William chegam em casa. Rosana, a empregada
abre a porta
ROSANA: Então como foi?
WILLIAM: Ainda não terminou. Já esperávamos que
durasse mais de um dia. E o Matheus?
ROSANA: Esta dormindo.
LÍVIA: Vou tomar banho e descansar
Lívia sobe as escadas
WILLIAM: Rosana, por favor, leve alguma coisa pra
ela comer no quarto.
ROSANA: Claro, vou preparar agora mesmo
Rosana vai para cozinha. William sobe para o quarto
de Matheus.
CENA
2: Noite – Casa de Suzana – sala
Suzana chega em casa e encontra Glória na sala
SUZANA: Boa noite, tudo bem por aqui? Onde está o
Felipe?
GLÓRIA: Está lendo no quarto.
SUZANA: Aconteceu alguma coisa? Por que essa cara?
GLÓRIA: Ai senhora, aconteceu uma coisa muito chata.
Bateram no meu carro e...
SUZANA: O que? O Felipe se machucou?
GLÓRIA: Não, ele não estava no carro. Eu estava indo
buscá-lo na escola, quando parei no sinal, o carro de trás não parou e bateu.
Aí veio a polícia fazer boletim de ocorrênciacom toda aquela burocracia e
acabei me atrasando muito
SUZANA: Já sei você chegou na escola tarde e o
Felipe estava furioso não é?
GLÓRIA: Antes fosse. Eu cheguei e não o encontrei,
fiquei louca procurando por ele e quando voltei para casa ele estava aqui vendo
tevê.
SUZANA: Ele veio sozinho? Como?
GLÓRIA: Ele tentou vir andando, mas se cansou e
acabou pegando carona com uma desconhecida
SUZANA: Não, ele não fez isso. Eu já disse milhares
de vezes para ele não falar com estranhos quem dirá entrar no carro de um
GLÓRIA: Senhora, não brigue com ele. A culpa foi
minha, eu devia ter ligado para escola e pedir que não o deixassem sair.
SUZANA: Ele teve muita sorte de não ter acontecido
nada, no meu trabalho eu vejo cada crime absurdo que cometem com crianças, ele
não faz idéia do risco que correu.
GLÓRIA: Eu já conversei com ele, garanto que ele não
fará isso de novo
SUZANA: Vou vê-lo
Suzana segue para o quarto de Felipe
CENA
3: Noite – Casa de Suzana – Quarto de Felipe
Suzana entra no quarto de Felipe
SUZANA: Oi, a Glória me contou o que aconteceu
FELIPE: Estava te esperando para jantarmos
SUZANA: Felipe, você tem idéia do risco que correu
hoje?
FELIPE: Sim, desculpe não vou fazer de novo, mas
espero que nunca mais se esqueçam de me buscar
SUZANA: Ela não se esqueceu de você, apenas teve um
imprevisto
FELIPE: Eu sei
Suzana abraça Felipe
SUZANA: Você é tão inteligente, sabe tanto de
matemática, informática e física que às vezes nem parece uma criança, mas hoje
percebi que você ainda é um garotinho e que precisa de um adulto para guiá-lo
FELIPE: Mãe vamos jantar. Estou com fome
SUZANA: Claro querido, vamos sim.
Susana e Felipe seguem pra cozinha.
CENA
4: Manhã – Fórum – Salão de Julgamento
O julgamento recomeça e Fátima, a diretora da escola
é chamada para depor. Suzana vai interrogá-la
SUZANA: Há quanto tempo Eric trabalha na sua escola?
FÁTIMA: Quase um ano. Ele entrou em agosto do ano
passado para substituir um professor que precisou se ausentar por motivos de
saúde
SUZANA: E ele é um bom professor?
FÁTIMA: Sim, não tenho do que reclamar
SUZANA: O que os alunos acham dele?
FÁTIMA: Acho que gostam, nunca ouvi nenhum tipo de
reclamação. Os alunos geralmente gostam dos professores de educação física,
difícil é gostarem dos de matemática ou química.
SUZANA: Entendo. E como é a relação do Eric com os
outros professores e funcionários da escola?
FÁTIMA: O Eric é bem tranqüilo, fala com todos, mas
não costuma encontrá-los fora da escola.
SUZANA: Alguma vez ele fez alguma coisa que fosse
inadequada a sua função?
FÁTIMA: Não senhora. Não tenho absolutamente nada a
reclamar de Eric
Suzana volta-se para o juiz
SUZANA: Sem mais perguntas meritíssimo.
O juiz dispensa Fátima.
JUIZ: O próximo a depor é Paulo Gomez vizinho de
Eric
CENA
5: Manhã – Escola
Felipe está na aula desenhando em seu caderno
enquanto a professora coloca exercícios de matemática no quadro. Um menino que está sentado ao lado de Felipe
parece incomodado.
VÍNICIUS: Por que você não está fazendo os
exercícios?
FELIPE: Não preciso
VÍNICIUS: Você se acha melhor que todo mundo aqui
não é?
Felipe continua desenhando
VÍNICIUS: Odeio pessoas que se acham superior aos
outros. Todos estão fazendo o dever, mas você se sente no direito de fazer o
que quer.
PROFESSORA: O que está acontecendo aí?
VÍNICIUS: O Felipe está desenhando ao invés de fazer
o exercício
PROFESSORA: Isso é verdade Felipe?
FELIPE: Sim, eu já sei essa matéria, não preciso de
exercício
PROFESSORA: Felipe todos estão estudando, não faz
sentido você ficar fazendo outra coisa
FELIPE: Vai me obrigar a copiar uma coisa que eu já
sei?
VINICIUS: Se é tão esperto, porque não resolve todos
os exercícios lá na frente?
Felipe se levanta
PROFESSORA: Não precisa fazer isso
FELIPE: Tudo bem, assim eu poupo o seu trabalho de
correção
Felipe vai ao quadro e resolve todos os exercícios
de forma rápida e correta
A turma fica surpresa
Felipe volta para seu lugar e continua seu desenho.
PROFESSORA: Bom, copiem a correção e se alguém tiver
alguma duvida pode perguntar.
VINICIUS: Você pode ter um cérebro privilegiado, mas
eu tenho uma coisa muito mais importante e que você não consegue ter
FELIPE: O que?
VINICIUS: Amigos.
CENA
6: Manhã – Fórum – Salão de Julgamento
Paulo acaba de ser chamado. Ele entra, faz o
juramento e se senta
JUIZ: Com a palavra o advogado de acusação Augusto
Arantes
AUGUSTO: Há quanto tempo conhece Eric?
PAULO: Dois anos, desde que ele se mudou para a casa
ao lado da minha
AUGUSTO: Como ele é como vizinho?
PAULO: É uma pessoa tranqüila, nunca tivemos nenhum
problema com ele
AUGUSTO: Ele costuma levar amigos para casa?
AUGUSTO: Alguém costuma visitá-lo?
PAULO: Já vi algumas pessoas indo visitá-lo, mas
receber amigos não é hábito que ele tem
AUGUSTO: Alguma vez você viu Emily indo visitá-lo?
PAULO: Não, nunca
Augusto volta-se para o juiz
AUGUSTO: Fica claro que o réu é uma pessoa que não
mantém contatos sociais. Ele não costuma ter amigos no local de trabalho, nem
na vizinhança e...
Suzana se levanta
SUZANA: Protesto meritíssimo. O fato de o réu ser
uma pessoa reservada não pode e não deve ser um indício de um possível
envolvimento no crime.
JUIZ: Protesto aceito. Dr. Augusto tem mais alguma
pergunta para a ser feita ao senhor Paulo?
AUGUSTO: Não meritíssimo
JUIZ: Dra Suzana, tem algo a mais que queira
perguntar?
SUZANA: Não meritíssimo
JUIZA: Muito bem, o senhor pode se retirar. Vamos
fazer um intervalo e na volta vou anunciar a sentença.
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