CENA 01 / INTERIOR / GALPÃO / NOITE
Gilberto em choque.
Terezinha está COBERTA de sangue e está parada com a serra elétrica ligada nas
mãos. Aos poucos é revelada a arma de Calixto, que está entre sua mão direita
fechada. À medida que a CAM vai subindo, é visto que a cabeça de Calixto está
fora de seu corpo e que, por isso, Terezinha e Gilberto estão tão petrificados.
Gilberto chama por Terezinha, mas ela está parada, em estado de choque. Depois
de muito ser chamada, Terezinha começa a rir e a dançar. Gilberto olha perplexo
para a irmã. Terezinha pega a cabeça de Calixto pelos cabelos e beija a sua
boca. Gilberto vomita e Terezinha olha para o irmão. Em seguida, se ajoelha
para falar com ele.
TEREZINHA –
(atenciosa) Gilberto, meu irmão querido... Você fez tanta coisa por mim... Me
ajudou tanto quando nós éramos pequenos... Você lembra aquela vez que eu quis
uma boneca linda, mas muito cara e você deu um jeito de roubá-la pra mim?
GILBERTO – (enojado)
Roubar é diferente de matar.
TEREZINHA – Mas é
assim que começa. Crime por crime. Sangue por sangue.
GILBERTO – E eu disso!
E eu me sinto culpado... A culpa é toda minha, Terezinha, toda minha!
Gilberto começa a
chorar e Terezinha o abraça, cheia de lágrimas nos olhos também.
TEREZINHA – Não é
assim, meu irmão, também não é assim! Eu sempre te amei e tu tentou me criar da
melhor maneira possível! Trabalhando, me ensinando o que era o certo e o que
era o errado... A culpa de tudo isso não é sua, é minha. Completamente MINHA!
(PAUSA) Você me perdoa?
GILBERTO – Quem sou eu
pra te perdoar, Tereza?
TEREZINHA – A única
pessoa que eu amei de verdade dessa vida.
Gilberto olha dentro
dos olhos de Terezinha.
GILBERTO – Perdoo.
Perdoo sim. E vou perdoar quantas vezes eu precisar, minha irmã. Agora se
entrega pra polícia, é o único jeito de você amenizar teus erros, mulher.
TEREZINHA – (chorando)
Tá bom. Se você tá pedindo, eu faço.
Terezinha pega a
cabeça de Calixto às lágrimas e segue para a porta do galpão, mas antes se vira
a Gilberto.
TEREZINHA – Só mais
uma coisa... Seu pinto não é pequeno.
Gilberto sorri.
GILBERTO – Eu sei
disso.
Terezinha manda um
beijo para o irmão e sai do galpão. Gilberto começa a chorar.
CORTA PARA:
CENA 02 / EXTERIOR / GALPÃO / NOITE
A polícia está pronta
para entrar. É quando Terezinha sai completamente desfigurada, com a cabeça de
Gilberto numa mão e a serra elétrica na outra.
SELMA – Mas o que é
aquilo na mão dela?
ESTÊVÃO – Aquilo...
Aquilo é uma...
DELEGADO – Uma cabeça!
Terezinha joga a serra
e a cabeça no chão, se ajoelha e levanta as mãos como sinal de rendimento.
Alguns polícias vêm e a algemam. Terezinha é levada arrastada de volta para o
carro. Alguns policiais entram no galpão e retiram Gilberto dali numa maca, o
enfiando numa ambulância em seguida.
SELMA – Meu Deus...
Essa mulher é completamente louca...
Ao ser levada,
Terezinha e Estêvão trocam olhares de tristeza e pena, respectivamente.
CORTA PARA:
CENA 03 / MORRO D’ÁGUA / INTERIOR / CASA VICTOR HUGO /
MADRUGADA
Victor Hugo e Laura
Dagmar entram quebrando tudo. É quando ele arranca a roupa de ambos e começam a
transar.
CORTA PARA:
CENA 04 / INTERIOR / CONSTRUTORA / ESCRITÓRIO /
MADRUGADA
Antônio e Laura se
encarando.
ANTÔNIO – (perplexo)
Como... Como...?!
LAURA – Eu
simplesmente pulei do carro antes que ele capotasse, meu querido!
ANTÔNIO – Eu vou ligar
pra polícia, isso sim!
Antônio pega o celular
e Laura lhe dá uma facada na mão.
LAURA – Nem pense!
O celular de Antônio
toca. É Lurdinha ligando.
LAURA – Atende e diz
que você vai ter que arrumar uns papeis aqui no escritório, anda! Bora! E põe
essa merda no viva voz!
ANTÔNIO – (atendendo,
ao cel) Oi, Lurdinha.
CORTA PARA:
CENA 05 / EXTERIOR / DELEGACIA / MADRUGADA
Lurdinha com Tom ao
lado.
LURDINHA – (ao cel)
Oi, papai. Acabei de prestar depoimento aqui na delegacia. O Tom veio me buscar
e estamos indo pro hotel. Quer que a gente durma no apartamento?
CORTA PARA:
CENA 06 / INTERIOR / CONSTRUTORA / ESCRITÓRIO /
MADRUGADA
ANTÔNIO –
(disfarçando) Não precisa não, Lurdinha. Eu vou ter que arrumar uns papeis aqui
na empresa e devo chegar mais tarde. Tudo bem?
CORTA PARA:
CENA 07 / EXTERIOR / DELEGACIA / MADRUGADA
LURDINHA – Tudo bem.
Mas amanhã eles com certeza vão querer te ouvir.
ANTÔNIO – (off) Não
tem problema, filha, não tem problema. Boa noite pra você e obrigada por tudo.
LURDINHA – De nada.
Lurdinha desliga o
celular.
TOM – (abraçando
Lurdinha) Não fica triste não, Lurdinha.
LURDINHA – Minha
família acabou, Tom, acabou. Minha mãe tá morte, minha irmã foi sequestrada...
A sorte é que eu ainda tenho o meu pai.
TOM – Vamos esquecer
isso, meu amor. Eu tenho novidades pra te contar.
LURDINHA –
(desanimada) E qual é a boa da vez?
TOM – A Maria Gilderoy
apareceu lá no hotel e disse que vai embora pra Las Vegas virar dona de um
cassino.
LURDINHA – Mentira?!
Que loucura.
TOM – E ainda passou a
Show Delícia pra mim.
LURDINHA – Pelo menos
você não vai ser pobre. Ainda mais com esse ensaio pelado aí...
TOM – Não reclama. São
cinquenta milhões, querida.
Lurdinha sorri e Tom
beija sua testa. Os dois seguem para o hotel.
CORTA PARA:
CENA 08 / INTERIOR / CONSTRUTORA / ESCRITÓRIO /
MADRUGADA
Laura pega o telefone
de Antônio e joga num vaso com água. Em seguida, lhe dá uma facada na cara, que
o faz cair no chão.
ANTÔNIO – Como você
conseguiu fazer tudo isso?
LAURA – Aprendi com
você... Afinal, foram tantos anos de humilhação, apanhando, sendo xingada dos
piores nomes possíveis...
ANTÔNIO – Mas você me
fez de escravo junto com o Beto, me humilhou, me enganou também!
LAURA – E foi muito
bem feito!
Laura se vira e começa
a quebrar todo o escritório. Aproveitando a deixa, Antônio pega uma arma e
aponta para Laura. Laura se vira e fica surpresa.
ANTÔNIO – Acabou.
Laura começa a rir
desvairadamente.
LAURA – Com certeza.
Laura joga a faca no
chão e pega uma arma da cintura. Os dois atiram um na cabeça do outro e morrem.
CORTA PARA:
CENA 09 / VISTA AÉREA
Amanhece no Rio de
Janeiro
CORTA PARA:
CENA 10 / INTERIOR / ESTÚDIO DE FOTOGRAFIA / TARDE
Tom está nu e
conversando com Lurdinha quando Laura Dagmar aparece junto com Victor Hugo.
LURDINHA – Vocês dois?
L. DAGMAR – Ué? Só
porque ele não é stripper? (P/TOM) E já tirou a roupa? Vai ter que esperar eu
colocar lantejoulas na periquita, meu querido.
TOM – Eu espero, Laura
Dagmar...
Laura Dagmar vai com
Victor Hugo para o camarim e Lurdinha se vira para Tom.
LURDINHA – Acordei com
um péssimo pressentimento.
TOM – (preocupado)
Será que é alguma coisa sobre o ensaio?
LURDINHA – Não, não...
Acho que é com o meu pai... Vou ligar pra ele e.../corta
TOM – /(segurando nos
ombros de Lurdinha) Lurdinha, seu pai sabe se virar muito bem. Dá um tempo pra
ele assimilar as informações que ele teve durante esse tempo todo, ok?
LURDINHA – É... Você
tá certo.
Tom sorri e beija
Lurdinha.
CORTA PARA:
CENA 11 / INTERIOR / ESTÚDIO / TARDE
Tom e Laura Dagmar
fazem o ensaio sob às vistas de Lurdinha e Victor Hugo.
CORTA PARA:
CENA 12 / INTERIOR / ESTÚDIO / TARDE
Laura Dagmar e Tom já
vestidos.
TOM – Foi muito bom
trabalhar com você, Laura Dagmar.
L. DAGMAR – Digo o
mesmo.
LURDINHA – Tá, adeus.
Lurdinha puxa Tom e
vai embora. Victor Hugo e Laura se olham.
V. HUGO – Você
trabalha muito bem, sabia?
L. DAGMAR – Digamos
que posar nua é apenas pros fortes.
V. HUGO – Sou muito
forte também...
L. DAGMAR – Sabe, nós
poderíamos unir nossas forças e virar uma dupla. Você vira meu empresário, e
eu, a sua cliente.
V. HUGO – (beija a mão
de Laura Dagmar) Ótima ideia.
O dois vão embora de
mãos dadas.
CORTA PARA:
CENA 13 / INTERIOR / CONSTRUTORA / ESCRITÓRIO / TARDE
Estêvão entra no
escritório e vê Antônio e Laura mortos. Ele toma um susto e liga para a
polícia.
CORTA PARA:
CENA 14 / EXTERIOR / CONSTRUTORA / TARDE
Lurdinha está
inconsolável junto a Tom e Estêvão.
LURDINHA – Eu perdi
toda a minha família, meu Deus... TODA a minha família!
TOM – (se ajoelha) Eu
acho que nós dois poderíamos reconstruir a sua família e formar uma nova.
LURDINHA – Como assim?
TOM – (sorri) Vem
comigo. Estevão, com licença, um minuto.
Tom pega Lurdinha pelo
pulso e a leva dali. Estêvão vai falar com um policial.
CORTA PARA:
CENA 15 / EXTERIOR / PRAIA / TARDE
Tom corre com Lurdinha
no colo e, depois de alguns passos, param à beira do mar.
LURDINHA – O que você
vai fazer?
TOM – Vamo casar.
LURDINHA – Mas como?
Com que padre? E como você tem coragem de casar agora, Tom? Meus pais morreram
e.../
/Tom beija Lurdinha.
TOM – Casamento com
amor verdadeiro não precisa de um padreco pra abençoar. Deus abençoa lá de
cima.
LURDINHA – E onde está
Deus?
TOM – (rindo) Em todos
os lugares, mulher. Um dele é aqui, na nossa frente, o mar. (pausa) Vamo nos
unir com a natureza de testemunha, Lurdinha.
Lurdinha sorri e Tom
corre com ela no colo para o mar. Os dois se levantam dali se beijando. Os
banhistas observam tudo e aplaudem. Lurdinha e Tom ficam felizes pra sempre.
CORTA PARA:
CENA 17 / INTERIOR / CLÍNICA AMERICANA / CTI / NOITE
Gilberto está respirando
com a ajuda de aparelhos quando Estêvão entra no quarto. Gilberto o corta com o
olhar, mas Estêvão ignora.
ESTÊVÃO – (hesitando)
Gilberto, eu andei pensando e... Bem, o mínimo que posso fazer por você... É
pagar o seu tratamento. Você aceita?
Gilberto sorri e uma
lágrima cai do seu olho.
GILBERTO – Já sofri
demais pra dizer não pra vida.
Estêvão sorri e aperta
a mão de Estêvão.
CORTA PARA:
CENA 18 / INTERIOR / MANSÃO ITACURUÇÁ / SALA /
MADRUGADA
Estêvão chega à mansão
e encontra um bilhete de Selma em cima da mesa. Ao pegá-lo, ele cai no sofá.
SELMA – (off) Estêvão,
caí no mundo. Preciso de um tempo sozinha para poder colocar melhor as ideias
no lugar. Dentro de um tempo eu mando notícias.
CORTA PARA:
DOIS MESES DEPOIS
CENA 19 / INTERIOR / CADEIA / SALA DE VISITAS / TARDE
Estêvão está sentado
quando Terezinha entra, COMPLETAMENTE MACHUCADA, e se senta de frente para o
ex-marido.
ESTÊVÃO – Tá apanhando
da cadeia, é?
TEREZINHA – Pode se
dizer que sim.
Estêvão ri.
TEREZINHA – O que você
quer aqui?
ESTÊVÃO – Arruma teus
trapos que eu arrumei um jeito de tirar todas as queixas contra você.
Terezinha se levanta.
TEREZINHA – (surpresa)
Quê?!
ESTÊVÃO – (indo
embora) Não pergunta, só faz. (se vira) Apesar de tudo, eu não acredito que
você seja tão má assim.
Estêvão vai embora e
deixa Terezinha com lágrimas nos olhos.
CORTA PARA:
CENA 20 / EXTERIOR / CADEIA / PORTÃO / TARDE
Terezinha sai com a
roupa de presidiária da cadeia. A luz do sol afeta seu olhos, e ela esconde o
rosto. As carcereiras enxotam Terezinha dali e ela fica olhando para a rua. Sem
saber o que fazer, ela anda por ali.
CORTA PARA:
CENA 21 / EXTERIOR / RUA / MADRUGADA
Terezinha se
prostituindo junto com outras mulheres e travestis. Ela entra no carro com
alguns homens.
CORTA PARA:
CENA 22 / EXTERIOR / MATAGAGAL / MADRUGADA
Terezinha está se
agarrando com outros caras.
TEREZINHA – São vinte
reais.
HOMEM 1 – Num vamo
pagar não.
TEREZINHA –
(indignada) Como é que é? Me dá meu dinheiro, seu preto maldito!
HOMEM 2 – Do que tu
chamou ele?
TEREZINHA – De PRETO
MALDITO!
HOMEM 3 – Vai aprender
a respeitar a gente!
Os homens dão socos em
Terezinha, que cai no chão e é estuprada.
CORTA PARA:
CENA 23 / INTERIOR / CONSTRUTORA / MANHÃ
Estêvão está
trabalhando quando olha para uma foto dele com Selma. Ele fica triste e abaixa
o porta retrato. Em seguida, ele vê outras fotos dele de quando ele era feliz,
porém abaixa todas e começa a chorar.
ESTÊVÃO – Como eu sou
infeliz! Eu era rico e não sabia!
Selma entra.
SELMA – Também acho.
ESTÊVÃO – (se virando)
Selma?
SELMA – Vim apenas
para dizer que eu estou com um homem novo, e bem melhor que você.
ESTÊVÃO – E daí?
Selma se aproxima.
SELMA – E daí que eu
vim aqui para ver como você está. Pelo visto, bem na merda. (ela começa a rir)
Ah, Estêvão... Você foi tão feliz... Mas o dinheiro subiu à sua cabeça e tu
quis trocar o certo pelo duvidoso!
ESTÊVÃO – Se você veio
aqui me aporrinhar, pode ir embora.
SELMA – Já estou indo,
Estêvão... Sorte com o seu novo amor: o dinheiro. Espero que ele saiba transar
muito bem!
Selma vai embora e
Estêvão quebra o escritório inteiro. Em seguida, ele chora mais ainda, e pega
uma foto de Terezinha, que estava em sua carteira.
ESTÊVÃO – Eu te amei
tanto... Por que você me traiu?! Por que, Terezinha, por quê?!
Estêvão termina
sozinho.
CORTA PARA:
CENA 24 / EXTERIOR / RUA / TARDE
Terezinha está sentada
na calçada. Várias pessoas estão passando e a ignorando.
TEREZINHA –
(estendendo a mão) Dá um dinheiro aí pra mim comprar pão aí...
É quando uma matéria
de jornal vem em sua cara. Ela pega a matéria e lê: PORTEIRO GANHA TREZENTOS
MILHÕES DE REAIS DA RASPADINHA “OURO FÁCIL”. EVANIR MACEDO DIZ QUE PARTE DESSE
DINHEIRO VAI PARA PAGAR O ENTERRRO DE SUA MULHER, QUE MORREU DE CÂNCER.
Terezinha sorri
maliciosamente.
CORTA PARA:
CENA 25 / EXTERIOR / RUA / NOITE
Evanir está fazendo
uma passeata com sua nova limusine, devido ao dinheiro que ganhou. No meio das
pessoas, Terezinha está escondida entre elas. É quando ela se joga na frente do
carro, que a atropela. Evanir sai, desesperado.
EVANIR – Precisa de
ajuda, moça?!?!
TEREZINHA – Sim... Me
ajuda, por favor!
Evanir ajuda Terezinha
a se levantar.
EVANIR – (apaixonado)
Com certeza.
Terezinha sorri.
CORTA PARA:
FIM
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